sábado, 3 de abril de 2010

O que veio depois

Olívia de Cássia - jornalista

Passei o dia, hoje, muito angustiada e reflexiva diante de muitas interrogações. Depois da separação de um relacionamento de quase vinte anos eu sofri muito, achava que o mundo tivesse desabado sobre minha cabeça e que não seria capaz de me reerguer diante daquele golpe sofrido.
Eu não consegui me conformar com aquela traição e a falta de lealdade e quanto mais eu questionava aquela situação, mais eu sofria. Era insustentável tudo aquilo; reviver é sempre dolorido.
Ficava sabendo notícias, com freqüência, do meu ex-companheiro com a outra, aquela que havia provocado a minha infelicidade, a separação e sobre seus relacionamentos amorosos paralelos. Parece que todo mundo sabe de alguma história e tem o prazer de vir contar pra gente. Isso sempre acontece.
Seis anos depois desse distanciamento, mesmo a gente morando em cidades tão próximas, eu pouco o vejo na rua, mesmo quando viajo para União dos Palmares quase não o encontro por aí durante todo esse tempo, mas sempre ficava sabendo das suas aventuras amorosas e dos envolvimentos duplos e das fraquezas das outras mulheres.
É impressionante como nós mulheres, quando estamos frágeis nos deixamos levar pela lábia e pala conversa mole de alguns aproveitadores. Eles sempre encontram alguém em quem aplicar e colocar suas garras famintas de poder e de dinheiro. Querem sempre levar vantagem.
Depois desse rompimento afetivo eu tive muitas crises existenciais que iam e vinham de forma inesperada. Adoeci, entrei na terapia e saí por falta de condições financeiras, mas precisei tomar remédios controlados durante quatro meses.
Às vezes, ainda hoje, eu avalio que de vez em quando preciso tomá-los para me sentir mais calma e para retomar o meu equilíbrio, mas não voltei para o especialista para consultá-lo sobre isso.
Quando esse problema emocional se fez presente em minha vida, comecei a sentir de forma mais acentuada os sintomas da ataxia spinocerebellar, doença hereditária da minha família.
Os tombos aumentaram, a dupla visão se faz em certas ocasiões, os engasgos e irritabilidade frequente, só para citar alguns incômodos que debilitam a gente.
Há instantes que penso que vou perder a minha razão. Procurei me dedicar ao meu trabalho com mais intensidade e a viver minha vida de forma mais leve diante de tanto obstáculo.
Por recomendações médicas abandonei a antiga ideia da adoção, um sonho antigo. O neurologista me aconselhou a viver a minha vida de forma mias intensa diante das impossibilidades físicas que poderão vir a me acometer, caso seja mesmo confirmada a ataxia spinocerebellar o meu problema de saúde. Resolvi me entregar de cabeça ao meu trabalho.
Durante cinco anos eu não me envolvi com outra pessoa emocionalmente e não queria mais isso, até que comecei a manter conversação com alguns rapazes no MSN e no Orkut.
Numa dessas conversas eu encontrei um rapaz mais novo que eu, muito simples, que de repente se mostrou interessado em entabular conversas com mais freqüência.
Dois meses depois de muitas conversas virtuais marcamos encontro no shopping e iniciamos um namoro. Nos primeiros dias, apesar das minhas trapalhadas e da falta de prática até que fui achando que poderia ser uma alternativa.
Um ano e seis meses depois eu já tenho a certeza que foi mais um erro que cometi. Eu nasci para viver só. Amo a liberdade e sempre lutei por ela. Não há nada melhor na vida do que a liberdade de ir e vir.
A liberdade de viver a vida sem interferência de outras pessoas. A liberdade de movimentos, sem invasão de privacidade. Sinto-me incomodada e incomodando e devo admitir que eu sou muito chata mesmo e para me agüentar, às vezes nem eu mesma me suporto. Não deveria ter me envolvido novamente. Já falei isso pra ele, mas parece que não quer entender.
Mais uma vez eu tenho que admitir que minha mãe tinha razão em tudo o que me dizia. “Minha filha, se conforme com o amor de seus cachorros, você nunca vai ser amada”. Parece até que me jogou um xingamento e todas as minhas desobediências da infância, adolescência e juventude agora resvalam diante de mim.
Tudo o que me acontece é culpa minha mesmo. Estou pagando por todos os meus erros do passado e carregando uma cruz muito pesada. Como diz meu irmão Petrônio, “cada um tem uma cruz para carregar”. E é isso que estou sentindo nesse momento.

Um comentário:

Elizangela disse...

Isso é um desabafo de sentimentos...
Precisando estou aqui pra conversar.

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