sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mulheres na política ou em qualquer lugar

Olívia de Cássia - jornalista

A pré-candidatura de duas mulheres à Presidência da República no próximo mês de outubro fortalece e reacende o debate da importância da participação do gênero feminino nas lutas da sociedade e do País se isso for do seu interesse, é claro. Defendo a proposta de que lugar de mulher é em todo canto, seja na política, no mercado de trabalho ou onde ela queira estar, por sua livre e espontânea vontade, não adianta querer pressionar.
Sou de um tempo em que vi muitas mulheres da minha geração ficaram alienadas porque, apesar dos avanços que as mulheres foram conquistando no Brasil, ainda nas décadas de 60 e 70, em União dos Palmares, muita coisa era proibida, muitas vezes até a leitura de determinados livros. Outras foram para as ruas protestar contra essa ideia e foram discriminadas e expostas às mais duras penas.
O sistema é bruto. Não é fácil ser participativa e rebelde com causa, não é fácil protestar contra um sistema corrupto, violento e cheio de conceitos pré-concebidos e machistas contra as mulheres, que eram consideradas antigamente como o sexo frágil. De frágil nós só temos o sentimentalismo, muitas das vezes até exagerado, como é o meu caso, e a sensibilidade de perceber coisas e situações, sexto sentido mesmo, que muitos homens não têm. Coisa de mulher.
Apesar do preconceito que sempre esteve muito visível nas sociedades de todo o mundo, desde os primeiros séculos que as mulheres participam dos enfrentamentos e das principais reivindicações sociais e políticas. No começo dos tempos, segundo Johann Jakob Bachofen, pesquisador, historiador e antropólogo suíço que estudou as sociedades matriarcais, as mulheres eram proibidas até de andar de transporte e percorriam muitos trechos a pé.
Muitas foram as inconformadas com essa situação, tantas outras foram as que morreram e, discriminadas, foram vistas como seres estranhos e nem assim deixaram de lutar por uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais igual. O espírito de luta e de protesto está no sangue.
Por mais que se fale é bom lembrar que apesar de todos os avanços que conseguimos na sociedade, principalmente no Brasil com a Constituição de 1988, ainda há muito preconceito - não só da parte dos homens machistas -, mas de mulheres também, por incrível que possa parecer. É coisa de formação pessoal, de educação e de escolhas também. Cada uma de nós escolhe os seus caminhos que às vezes são cheios de curvas, espinhos e abismos.
É certo que a propaganda enganosa dos meios de comunicação e muitas novelas de TV mostram uma ideia de mulher que muitas vezes não está ao alcance da maioria e elas se deixam levar por aquela farsa e se embrenham em situações e em um mundo que não lhes pertence e vivem alienadas da vida, no “mundo de Alice”, ignorando a verdadeira face da realidade e isso atende aos interesses de determinado segmento que não quer a mulher consciente e participativa.
Num mundo tão cheio de violência e ainda com tanto preconceito, essa ampliação da participação das mulheres na política e nas lutas principais dos movimentos será uma demonstração de que as mulheres estão vivas e de olho em tudo. Que venham as eleições!

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