quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Apesar de desvalorizados, professores entendem que ensinar é uma missão

Foto: Adailson  Calheiros
Para Sandra Lúcia, ser professor é uma profissão extremamente empolgante, que motiva e lida com emoção o tempo inteiro
Olívia de Cássia - Repórter 

No dia do professor, comemorado nesta quarta-feira, 15 de outubro, a categoria reconhece que ensinar é uma grande missão, apesar ‘do desrespeito da sociedade e da falta de valorização dos profissionais pelos alunos’, atualmente. Segundo a professora Sandra Lúcia, das disciplinas de Licenciatura da Universidade Federal de Alagoas, ser professor é uma profissão extremamente empolgante, que motiva e lida com emoção o tempo inteiro.
Sandra Lúcia destaca que ser professor é uma profissão que motiva e que a relação professor-aluno só se realiza na afetividade: “A função da gente é promover o desenvolvimento do outro, uma relação que tem muita doação e por isso também tem muita cobrança. A gente vive no fio da navalha”, observa a professora.  
A professora da Ufal destaca também que os professores hoje são vítimas de síndromes; problemas emocionais que levam a um adoecimento psíquico e físico, por conta desse extremo envolvimento que a profissão requer, mas apesar disso, observa que quem faz a profissão com paixão comemora, mesmo ela não sendo hoje uma profissão reconhecida socialmente.
“O professor não é respeitado; não é uma questão apenas monetária é a moral do professor que foi desmontada. Falta formação: intelectual, moral, das pessoas como seres humanos de melhor qualidade. É uma questão do processo civilizatório mesmo, a gente tem que se doar muito, estar muito disponível, para que o estudante extraia mesmo o conhecimento e nessa relação de doação, quando não se materializa uma aprendizagem e tudo atrapalha, não se conclui, então há uma frustração muito grande”, analisa.
Sandra Lúcia argumenta que há ainda em algumas gestões “a desvalorização da educação e a sociedade brasileira não valoriza a educação: a gente não construiu isso ainda; estamos a caminho; tem muitas coisas boas acontecendo, mas ainda tem muita coisa que desgasta coletivamente e pessoalmente”, pontua.
A professora lembra que a violência nas escolas desestrutura as pessoas e a relação delas e observa que apesar de tudo, o que mantém a maioria dos professores na profissão é a paixão. “Um educador se faz com paixão; mas muitos estão sofrendo por uma paixão mal correspondida; nós não estamos sendo valorizados e amados pela sociedade nesse momento, mas ainda é uma profissão apaixonante”, avalia.
Coordenador do Curso de Pedagogia da Ufal diz que nunca pensou em outra profissão
Trabalhando a vida toda na escola, o professor Eraldo Souza Ferraz, coordenador do curso de pedagogia da Ufal, disse que nunca pensou em ter outra profissão. “Vale a pena ser professor; vivi a minha vida inteira nesse meio, toda a minha formação é na área de educação, nunca pensei em exercer outra profissão e sei das dificuldades que existem em ser professor, mas a gente tenta superá-las”, destaca.
Eraldo Ferraz ressalta que fica muito confortável na condição de professor: “Gosto da profissão; atualmente, os professores da educação básica se deparam com a questão da violência escolar e além da missão de ensinar têm que ter os conhecimentos de educação familiar, eles passam educação doméstica e é muito difícil. A mídia contribui para uma imagem negativa desse professor, porque ele não dá conta de tudo”, explica.
Professor Eraldo Ferraz diz que sabe das dificuldades que existem em ser professor, mas tenta superá-las (Foto: Adailson Calheiros)
O professor ressalta que o profissional das séries iniciais tem que ter o melhor salário, “são eles que fazem a criança enxergar, porque quem não sabe ler é como se fosse cego. Outra questão é que na educação básica, a  criança e o adolescente dão mais trabalho; o desafio é grande, o professor não pode ficar apenas fazer de conta que ensina, ele tem que ensinar”, destaca.
Segundo Eraldo Ferraz, quando o aluno vem de casa sem saber ler e começa o processo de aprendizagem, é gratificante para o educador. “A gente fica feliz”. O trabalho é árduo, mas é gratificante.  “Os desafios são grandes: tentar dialogar com o aluno de um conteúdo formal e dizer exatamente como é o conhecimento científico”, observa.
Eraldo Ferraz também destaca que é óbvio que precisa melhora os salários ainda: “Em qualquer situação, quanto mais a gente ganha, a gente quer mais, pelo reconhecimento, as condições de trabalho, espaço físico para ensinar, carteiras escolares adequadas,  número de alunos adequados para o aprendizado em sala de aula, para que o professor possa fazer um trabalho mais de qualidade, com participação do aluno”, pontua.
Segundo ele, ser na questão da violência escolar tem a impunidade: “E não havendo punição pelo mal feito na escola com o professor, então os alunos se acham no direito de estarem aprontando na sala de aula”, diz.
Professores precisam de estrutura para realizar bom trabalho, diz sindicalista
Para que professores realizem um bom trabalho os profissionais observam ainda que precisam ter estrutura para exerceram a profissão. A diretora de formação sindical do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, Girlene Lázaro, disse que a profissão de professor é de fundamental importância na sociedade porque leva identidade e ascensão social ao estudante.
Ela observa que quem abraça a profissão de professor o faz pelo compromisso social que tem em formar o cidadão e pela troca de conhecimento. “Muitos gestores ainda desvalorizam a categoria, mas acredito que é essa relação de formar o cidadão que faz com que o professor lute pela educação de qualidade”, destaca.
Para sindicalista Girlene Lázazro, quem abraça a profissão de professor o faz pelo compromisso social (Foto: Adailson Calheiros)
Segundo Girlene Lázaro, ainda é preciso mais investimentos e formação de professores, mas  aqueles que acreditam no que fazem, permanecem. “Segundo uma pesquisa divulgada recentemente, mais de 83% dos professores entrevistados confirmaram que não desistiriam da profissão”, pontua.
A sindicalista destaca que houve avanços na esfera federal, mas que os alunos da rede pública estadual não vêm políticas de educação sendo aplicadas e segundo ela, isso desestimula a procura pela profissão. “Esperamos reverter isso; precisamos avançar”, destaca.
Girlene Lázaro disse ainda que os professores têm a comemorar hoje, “a capacidade de indignação diante de alguns problemas na área; comemorar os alunos das escolas públicas que se destacaram e que é mais um dia de reforçar a luta sindical”, pontua.  
Ela complementa dizendo informando que o Sinteal não vai fazer festa de comemoração nesta quarta, mas no dia 31 de outubro, no Ginásio do Sesi, no Trapiche, com a orquestra Conexão Latina, reunindo a categoria: professores e demais trabalhadores da educação.

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