domingo, 16 de maio de 2010


Divagações

Olívia de Cássia – jornalista

Começo a escrever as primeiras linhas destes escritos às 16h43 do sábado, 14 de maio de 2010, em retorno à cidade natal, uma semana depois da última vez em que estive aqui. Penso em alugar um cantinho para quando quiser vir ter um lugar só meu. O aluguel está muito caro em União, consequência da especulação imobiliária de uma cidade que cresce a olhos vistos.
Se tivesse condições eu compraria um imóvel, não precisa ter luxos, coisinha simples mesmo. Claro que se minhas posses fossem suficientes eu queria conforto, quem não quer? Mas a cada dia me vejo mais distante de tê-lo. Apesar do trabalho, é impressionante como eu não consigo me organizar para ter algo mais na vida!
Sinto-me impotente para isto. As coisas se vão dos meus dedos como grãos de areia, não consigo me estabilizar. É como se uma força maior, uma força de retração me puxasse e impedisse o melhoramento.
Peço orações aos amigos e amigas; preciso de pessoas que sejam mais fortes para me auxiliarem nesse lado, sinto-me fraca, parece que minhas orações não têm forças suficientes. Vejo-me às vezes tão frágil diante de certas situações, sem forças para lutar! Nessas horas eu não consigo tomar uma atitude mais drástica, mais radical.
A vida é cheia de dificuldades que muitas vezes nos impossibilitam a felicidade da maneira como achamos que seria esse sentimento. No meu pensamento de agora eu volto ao passado recente e ao mais antigo. Passagens marcantes da minha vida. Não sei dimensionar a profundidade de tantas marcas e cicatrizes da minha alma. São muitas as marcas do meu passado. Da infância distante à adolescência, da juventude à maturidade.
Que maturidade é essa se não consigo sequer me proporcionar bem-estar e conforto? Gosto de ficar sozinha em casa, repensando conceitos, repensando a vida, repensando tudo. Às vezes tenho crises existenciais da mesma forma que outras pessoas também as têm. O diferencial é que eu não consigo esconder de ninguém o que se passa comigo.
Por que não consigo me desvencilhar do passado e ser alguém mais firme, mais dona de mim e com domínio de sentimentos e emoções? Esses sentimentos são únicos, só meus. Venho para União dos Palmares porque amo minha terra natal, mas também para matar saudades, querendo me fortalecer, me renovar, me reciclar de alguma forma para uma nova semana de trabalho.
Venho com o propósito de rever amigos muitos dos quais já nem estão mais por aqui, mas a saudade deles dói tanto que me faz pensar que ainda posso encontrá-los por aí, em alguma rua da cidade, como antes. Muitas das vezes eu chego aqui e não faço nada de importante, mas só o fato de estar na cidade me fortalece ou me dá a ilusão de tal.
Quantas e quantas vezes eu cheguei e saí daqui chorando por conta de problemas não-resolvidos, por causa da minha falta de habilidade para resolvê-los. Sinto falta dos meus pais, sinto falta da família unida, que está dispersa por aí. Sinto falta do passado, tenho saudade de mim. Daquela menina sonhadora que achava que ia fazer jornalismo para cobrir guerras e conflitos, tal qual Euclides da Cunha em seus relatos em Os Sertões.
Quanta ilusão a gente cria quando tem a juventude pela frente e um mundão de tempo pra sonhar! Para sonhar e decidir o que será feito de nós.

Um comentário:

Madalena Sofia Galvão Viana disse...

Ah que texto lindo! Algumas vezes também sinto saudades apertadas de União, de tarde domingo, de sair do Santa às 5 da tarde e ficar conversando com minhas amigas na avenida. De chegar na sexta, depois de uma semana aqui em Maceió, e ver a felicidade nos olhos de painho e mainha nos recebendo (eu e minha irmã), voltando a atenção só para as nossas novidades da faculdade. Gostei, em especial, dessa parte aqui: "Quanta ilusão a gente cria quando tem a juventude pela frente e um mundão de tempo pra sonhar! Para sonhar e decidir o que será feito de nós." Frase forte. Abraços,

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