Por Olívia de Cássia
Entre meus livros e álbuns de retratos antigos, além dos arquivos de fotos digitais, vou pensando na vida já nas primeiras horas da manhã. Olho-me no espelho e as mudanças não são nada promissoras. Marcas do tempo, do envelhecimento e da idade.
Sabe Diário, abro o computador e o Facebook me mostra lembranças de tempos atrás. De fotos que eu tirava já na juventude, de amigos queridos, compartilhamentos de mensagens e de situações e notícias que não saíram de evidência, como as notícias políticas do nosso país.
Lembro Cazuza que dizia: "São notícias velhas, de ontem", quando eram críticas negativas que se referiam ao Barão Vermelho. Na juventude a gente não se importa com a opinião alheia e quase sempre dá as costas aos falatórios.
Tio Antônio Paes de Siqueira, quando tinha saúde, ficava no bar da sinuca, na Avenida Monsenhor Clóvis e lá ouvia o falatório ao meu respeito, sobre 'possíveis envolvimentos' e lá ia ele contar para minha mãe, que não ficava nada satisfeita com aqueles comentários e me batia antes de procurar saber se eram fatos reais.
Avalio que se a gente for viver dando tanta satisfação ao mundo, a gente não é feliz, não faz o que quer e o que tem vontade de fazer. Eu vivi minha adolescência entre momentos de felicidade com os amigos e situações angustiantes em casa, porque meus pais, principalmente minha mãe, não me aceitavam como eu era.
Isso tudo eu vivi na minha adolescência e juventude e recordo de o quanto eu era vítima de falatórios e críticas dos mais velhos, por ser uma jovem com a cabeça no futuro, que não queria viver no cabresto.
Hoje eu entendo que para a mentalidade dela, filha de senhor de engenho, nascida e criada na na roça, com todas as proibições daquela época, era difícil alcançar a minha cabecinha efervescente e sonhadora.
Me rebelei contra tudo, não admitia que falassem de mim pelas costas, avaliassem o que não sabiam e não viviam. Era um costume muito da época em União dos Palmares e não só por lá, a gente viver em bandos.
Tínhamos o nosso modo de ver a vida e me achava rebelde por demais. No entanto a nossa rebeldia era de poucos, porque quando se tratava de opiniões conservadoras, muitos repetiam as falas e opiniões dos fofoqueiros e fofoqueiras de plantão, sem nem saber o que se passava em minha vida.
E por ironia do destino, na maturidade fui descobrir tanta limitação em se tratando de saúde e perceber que vou ter que depender dos outros para as tarefas mais simples: logo eu que lutei tanto para morar sozinha, ter minha independência e ser livre, ter meu cantinho de leitura e solidão.
Hoje sou consciente de que num futuro bem próximo vou precisar da presença de outra pessoa, para cuidar das pequenas tarefas de casa e das minhas também. Eu só espero que esse período possa ser retardado o mais longe que seja possível com a fisioterapia, porque isso tem me deixado apreensiva por demais. Bom dia.
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