Olívia de Cássia -
jornalista
De repente dá um nó na
garganta, um aperto no peito, uma vontade de chorar, mas as lágrimas não
descem. Talvez em protesto porque em outras épocas eu já chorei o bastante: por
sentimentos tão profundos, que já não tenho mais nada para chorar dentro de
mim. Talvez a fonte tenha secado.
Não, não é transtorno de
ansiedade ou síndrome do pânico o que estou sentido: são apenas sentimentos
verdadeiros acumulados querendo explodir de alguma forma, extravasar o cansaço,
conversar com um amigo, falar de coisas que às vezes nem sei dizer, protestar
contra as injustiças do mundo ou nem sei o quê mais.
Todos nós ficamos
ansiosos, às vezes, e essas minhas preocupações, ainda bem, não interferem na
minha capacidade de levar a vida; eu consigo relaxar se ouço uma boa música, se
leio um bom livro, se estou na companhia de gente que me traz alguma mensagem
positiva, de gente do bem.
Mas esses são sentimentos
e emoções que às vezes se fundem num só desejo: o de ser feliz. Sinto que já
não tenho tanto tempo disponível e vem aquela vontade de viver muito mais,
aproveitar a vida de forma que ela seja intensa e positiva.
Mas como vou viver
intensamente se não tenho capacidade nem para administrar a minha vida? São
perguntas que me veem à cabeça, depois de um dia de trabalho e a cabeça cheia
de informações, adrenalina que serve de combustível para quem vive nesse mundo
da comunicação.
E foram tantos os sonhos
da juventude, tanta expectativa gerada, quereres acumulados, algumas frustrações;
mas eu sempre tive a certeza do que eu queria ser e essa vontade era maior e a
vida toda foi assim. Minha profissão sempre estava e esteve acima de tudo para
mim, até de alguns sentimentos, eu confesso.
Nunca abri mão desse
sonho profissional, embora lá na frente a gente vá percebendo que a família é
muito mais importante que tudo. Mas no andar da minha carruagem eu não formei a
minha própria família e como dizia Machado de Assis, não terei descendentes
diretos.
Às vezes essa constatação
arranha um pouco a minha existência, mas a essa altura da vida eu não tenho
mais tempo para ilações a respeito de como teria sido minha vida se fosse de
outra maneira.
O jeito é viver e viver
muito mais, tentando ser feliz, afinando e refinando o gosto pela leitura,
diversão e arte, procurando um pouco de qualidade de vida, embora as
dificuldades encontradas sejam muitas, mas na certeza de que as escolhas que
fiz me levaram e me levam aonde eu quero chegar.
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