Olívia de Cássia – jornalista
Enquanto aguardo a atualização do Windows 2010 solicitada
pelo computador do trabalho, começo a refletir sobre uma série de situações
atuais e vou rascunhando ideias. A caligrafia está cada dia mais ilegível,
piora com o avançar da ataxia e o uso diário e constante do computador.
Se eu tivesse que sobreviver à custa da caligrafia, como em
alguns casos se davam antigamente, eu já teria morrido de inanição. Mas não é
essa a preocupação que agora me acomete.
A missa na Catedral de Maceió já está terminando e quando
cheguei à Casa de Tavares Bastos nesta manhã, vou ouvindo os cânticos e
louvores. Roguei a Nossa Senhora dos Prazeres que interceda junto ao Pai para
que tenha um pouco de aquiescência comigo.
Avalio que não sou tão merecedora da misericórdia divina,
mas penso que posso ter um pouco mais de clemência. Na ladeira da Catedral
começam os primeiros movimentos. A cidade vai acordando aos poucos.
Vivemos momentos turbulentos na política do nosso país e
também no mundo, mas quero crer que, mesmo diante da torcida oposicionista retrógrada,
que aposta no quanto pior melhor, a presidente Dilma conseguirá controlar o
leme desse barco inquieto.
O que me preocupa, no entanto, é o açodamento, o recalque, o
pensamento distorcido e imbuído de conservadorismo e atraso da chamada classe
dominante.
Existem exceções nessa seara, mas o público que foi às ruas
no dia 16 pedir o afastamento da presidente Dilma, é a expressividade do pior
sentimento, da pior política e do pensamento difuso, em se tratando de
filosofias e modo de ver o mundo.
Não estive em nenhum desses locais, mas pude acompanhar
pelas redes sociais e sites de notícias, vídeos e comentários que expressaram a pobreza de sentimentos de
algumas daquelas pessoas que estavam
participando desse movimento.
Vi homens e mulheres defendendo a volta do regime militar; a
morte de todos as pessoas que participaram dos movimentos contra a ditadura, em
1964; mulheres nuas; jovens e mulheres que nem sabiam o motivo real do protesto
e passaram a defender conservadores da pior espécie.
Eu quero acreditar que aquelas pessoas são analfabetas
funcionais, porque não consigo imaginar um ser humano que tenha conhecimento da
história do mundo e do país, por mínimo que seja esse conhecimento, que defenda
o que vi escrito em faixas e cartazes naquele dia.
E me vem a certeza ainda mais de que, embora eu não seja intelectual
e não conheça tudo e todo o enredo da história, pelo menos procuro me informar
e me acercar de pessoas que tenham essas informações.
Vejo com muita tristeza pessoas novas, supostamente
esclarecidas e que poderiam ocupar o tempo estudando mais, falando tanta
asneira e se deixando levar por notícias falsas que chegam deturpadas e toscas.
Percebo nesses instantes, o quanto sou grata a meus mestres
e professores, desde o primário à pós-graduação, por terem me dado a
oportunidade de me fazerem perceber os caminhos que eu deveria percorrer para
entender o mundo e a vida, da forma que eu entendo hoje.
E apesar de gostar de uma boa vida e de um pouco de ‘mordomia’
também, agradeço aos meus pais por não terem me tornado uma pessoa medíocre e egoísta, ao ponto de só
querer que as melhorias viessem apenas para mim e que o outro, o mais
necessitado, precisa de respeito.
Torço e vou continuar torcendo pelo bem do meu país, mais o
bem que seja necessário para todos e não apenas para uma casta dominante e
arrogante, que se avalia como melhor que o outro, seu semelhante.
Essas mesmas pessoas vão para as igrejas gritar o nome do
Senhor, enquanto vomitam nas ruas o ódio e a intolerância social. Eu não quero esse
tipo de vida medíocre para mim. Minhas limitações são várias, dede a física à
financeira, mas nem assim eu desejo para mim esse tipo de vida, onde a pobreza
espiritual, da alma é tão gritante. Bom
dia.
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