quinta-feira, 13 de abril de 2023

O tempo voou e para alguns com mais dureza.

Olívia de Cássia Cerqueira

 

O tempo passou, rápido feito um furacão, levando para o infinito alguns sonhos que não pude realizar. O tempo voou e para alguns com mais dureza.

Talvez, quem sabe, em outra dimensão, se outra chance eu tiver, eu possa conseguir desvendar os mistérios. Acordei pensativa. São muitas as perguntas que me faço, nos momentos de fraqueza.

Por que fui escolhida para carregar essa cruz?, me interrogo por vezes.  Cada um tem a sua para carregar, como dizia meu saudoso irmão. Não é fácil. A velhice nos traz algumas certezas e por conseguinte mais dúvidas e talvez, dizem, sabedoria. Duvido de muitas certezas.

Quando a gente cresce, alguns ideais são desfeitos ou substituídos por outras situações. Eu queria ainda ter tempo. Tempo de realizar muito mais, aproveitado mais, como diz a música dos Titãs.

Mas essas querelas não estão no meu querer. Cada vez que me olho no espelho me assusto com a imagem debilitada que tenho agora. E começo a fazer comparações.

Outro dia fui revisitar os álbuns de fotos. Não bastou ir muito longe e me deu saudade. Cada idade tem a sua época e posso dizer que tento não me impressionar e ser negativa, para continuar a viver.

Já falei em outras ocasiões que tive o privilégio de fazer amizade com várias gerações na minha cidade natal, mas isso também tem muito tempo. Nunca fui CDF, mas não deixava de estudar por conta das brincadeiras e saídas no fim de semana.

Sonhava com outro mundo. Eu sabia que minha seara não era fazer cursos que exigiam tanto de mim. A área de humanas sempre foi meu forte, coisa que minha mãe dizia, não dava dinheiro.

Meu lado era de sonhos, leituras, poesias, amizades, músicas e viagens que nunca fazia e ficava sonhando embalada na vivência dos meus amigos viajantes. Um lado mais suave da vida, que sempre tive afinidade. Os amigos, a maioria se foi. Alguns para a eternidade e outros que ainda tenho a chance de encontrar vez ou outra.

Os valores da gente de hoje já não são mais os mesmos. A gente não percebe as mudanças que acontecem dentro de nós. E quando menos esperamos, acontece uma transformação, sem que tenhamos noção de como tudo se deu.

Mudamos de repente, como se algo tivesse acontecido, uma revolução interior, que muitas vezes não sabemos explicar. Você amadurece com o sofrimento, com experiências e as vivências… Isso é maturidade.

A menina que existia em mim não morreu, mas foi se amoldando ao tempo; aprendeu a conviver com as complicações que vão surgindo. Quando falta a saúde, tudo o mais se descontrola, mas a gente tenta administrar. Dizem os escritores que o tempo é como o vento; ambos são soberanos.

Quando a gente é criança tem mais tempo para viver e para sonhar, para observar o vento, para ver o balanço das folhas, o deslocar das nuvens.

Eu ficava deitada no colo do meu avô observando os carneirinhos que se formavam nas nuvens, à noite, na porta da mercearia do meu pai.

Cada mudança das nuvens era um animalzinho que se formava e mostrava pro meu avô, que sorridente participava de todos os meus sonhos e fantasias de criança.

Tinha mais tempo, tempo pra viver e para sonhar, mas só percebemos que o tempo passou quando olhamos para dentro de nós e não vemos mais aquela criança sonhadora e pura.

O vento foi tomando conta de tudo, levando os restos de esperança daquela menina acanhada e sonhadora que eu era. O tempo mudou o rumo da minha vida, só não sei dizer se foi para melhor.

2 comentários:

Voney disse...

excelente txt e visão de vida.

Anônimo disse...

Grata

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