sexta-feira, 7 de abril de 2023

Dias que seguem ...

 

Olívia de Cássia Cerqueira ...

 

Há 2023 anos a história da humanidade mudou. Um Homem que veio ao mundo com a missão de nos salvar foi terrivelmente maltratado e injustiçado e a história se repete nos dias de hoje.

Eu não entendia e achava muito triste essa história, da mesma forma que ainda acho. E basta trazer o assunto para a atualidade, percebemos o quanto isso é real.

Os rituais se modernizaram, mas se repetem na Semana Santa.

Na União dos Palmares da minha infância, apesar da tristeza do que representava a Paixão de Cristo, tínhamos como “recompensa” a certeza de que não íamos apanhar, caso cometêssemos algum deslize.

Segundo a crença da época, não era dia de bater nem de maltratar ninguém: nem gente nem animal, em respeito ao Cristo morto e crucificado.

Essa regra lá em casa só foi quebrada quando fiquei adolescente e adulta, quando eu já estava de namoro com meu ex-companheiro e minha mãe foi até a Avenida Monsenhor Clóvis à minha procura, com a finalidade de me pegar no flagra e me bater, inconformada com aquele relacionamento. E apanhei muito nesse dia quando cheguei em casa.

Meus pais e meus avós jejuavam na Semana Santa e nos dias normais comiam carne de segunda a quinta-feira, na sexta não podia e voltava a comer no sábado.

Era tradição e ainda hoje muitas pessoas católicas ainda seguem esse ritual. Outras pessoas nem tomavam banho ou lavavam os cabelos. Eu achava falta de higiene.

Na Semana Santa, da quarta até a sexta-feira, os nossos almoços lá em casa eram regados a muita comida no coco, peixe, bacalhau, sururu e outras delícias; de sobremesa e para o café mamãe fazia bolos diversos, pés-de-moleque, cocada e tanta coisa gostosa que a gente se fartava.

Os rituais da Igreja eram sempre seguidos pela minha família e na Sexta-feira da Paixão nós acompanhávamos nossos pais na procissão do Senhor Morto, numa tristeza contrita e profunda, depois íamos à igreja beijar o Cristo.

Quando morávamos na Rua da Ponte, seu Antônio Timóteo passava a manhã inteira reproduzindo na vitrola antiga, em disco de vinil, a via-crucis da Paixão de Cristo, em volume bem alto e quase toda a rua escutava.

Era a história triste do filho de Deus que veio ao mundo para salvar a humanidade. E, na minha ingenuidade de menina, já me revoltava com a maldade do mundo.

Me perguntava como era que aquelas pessoas tinham feito o Cristo sofrer tanto e ele tinha sido tão bom e tão fraterno.

Aquela história era tão triste que sempre me levava às lágrimas e quando fiquei mocinha e fomos morar na Tavares Bastos ia ver a Paixão de Cristo no cinema de seu Armando.

O filme era mudo, em preto-e-branco e as cenas eram apenas fotografias estáticas, com legendas, ou uma narração ao fundo.

Também lembro que tinha o filme ‘Marcelino Pão e Vinho’; que eu me lembre foi o único que o meu pai foi e levou toda a família, eu era muito criança, mas lembro que a história era um enredo religioso.

Na Sexta-feira Santa, era dia de ir pedir a bênção aos nossos padrinhos de batismo; no meu caso, padrinho Durval Vieira e madrinha Nenzinha.

Meu padrinho ia me buscar todo fim de semana para andar de jipe e eu ficava feliz com aquela atitude dele.  Nessa época do ano o ritual se repetia.

Ele mandava represar o açude da sua fazenda Sete Léguas e eu e Luciana (sobrinha de madrinha Nenzinha) nos metíamos naquela água, para observar de perto a pescaria.

Era uma festa para mim tudo aquilo, além das muitas frutas que comíamos no sítio. São pequenas lembranças da Semana Santa de tantos anos passados que me ocorrem sempre nos dias de ocaso. Boa Páscoa!

Nenhum comentário:

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...