domingo, 23 de abril de 2023

Quando vem a imaginação

Olivia de Cássia Cerqueira

 

Acordei no meio da noite com a uma imagem de uma máquina fotográfica, uma caneta simbolizando meus textos, como se fosse a capa do próximo livro.

Uma situação que me incomodava (?) sempre que eu saía com minha máquina fotográfica e alguém me criticava por ter aquela “mania”, costume esquisito para alguns, hoje espetacularizado pela tecnologia.

Uma das minhas grandes paixões, agora comprometida pela falta de equilíbrio, justamente agora. Deitada no chão e fazer piruetas para obter a melhor fotografia e outras manobras, já não posso mais, por conta do avanço da Ataxia.

Em outro texto, bem anterior, escrevi que fotografar para mim era como uma necessidade básica. Sempre gostei muito de fotografia e desde a faculdade eu registrava os movimentos, as mobilizações e outras paisagens.

Muita coisa se perdeu no caminho, mas ainda consegui salvar  algumas fotos daquela época. Da mesma forma que as meninas da turma não gostavam muito de ir ao laboratório, eu ficava lá, horas a fio, com os meninos, para aprender um pouco sobre revelação de fotos.

Eu gostava de sair às ruas, quando Maceió era uma cidade pacata, para fotografar, sem pauta e nem compromissos e também em União dos Palmares. Fotografei passeatas, mobilizações, monumentos históricos, praças, pessoas e coisas.

A fotografia me encanta, é como se a  máquina fotográfica fizesse parte do meu corpo, fosse um apêndice útil e indispensável. Também passei a usá-la para disfarçar um pouco os tombos e meu jeito atrapalhado de ser, embora eu nunca tenha confessado isso; talvez por timidez.

Desde o primeiro comício do Lula em Maceió; greves dos bancários, onde eu trabalhava na sede do sindicato, encontro de mulheres, passeatas e atos do primeiro de maio e protesto das mulheres nas ruas.

Fotografar para mim é mais que um hobby, faz parte da minha vida e embora agora já afastada do trabalho, quero continuar a fazer uso dessa ferramenta para me distrair, embora que a máquina foi um pouco “desprezada”, substituída pelo celular, agora quase que usado para fotografar meus pets.

 Às vezes as pessoas não entendem meu modo de ver as coisas. A luz é a principal mola mestra da fotografia, mas outras nuances também se destacam e dependem do olhar de quem está fotografando.

Tive a honra de fotografar Luiz Inácio Lula da Silva em Alagoas. A primeira foi no primeiro comício que ele fez, na rua em frente à Assembleia Legislativa; na greve dos Bancários em 1991; no Espaço Cultural da Reitoria da Ufal, que ainda funcionava na Praça Sinimbu, onde ele autografou para mim duas fotos que eu tinha feito dele no outro comício.

Fiquei tão nervosa na hora com aquele contato com o maior sindicalista que o Brasil já teve (hoje nosso presidente pela terceira vez), que quase não me contive. Também fotografei Lula em União dos Palmares, na caravana da esperança, na Palmarina (clube da cidade, hoje sede de uma igreja evangélica), para uma palestra com trabalhadores rurais.

Revivendo lembranças, olhando fotografias antigas deu uma saudade de mim, da pessoa que nunca se importou com opiniões alheias.

Observo nas fotografias momentos da vida. As fotos denunciam o tempo, aquele que a gente não pode fazer nada contra, “o senhor da razão”. Contra ele não há quem possa. Ele é o senhor de tudo, da vida de todos nós, como disse um autor.

A gente bem que podia às vezes congelar o tempo, para que não passasse e puséssemos perpetuar o instante, os bons momentos, de alegria, de sorrisos, de eternidade. Tenho saudade, saudade de mim, da menina que fui...

A fotografia é o instante congelado, para que possamos mais tarde, como agora, reviver o tudo. Sentimento. Não importa se a técnica for perfeita.

A foto é congelamento do tempo, o instante da vida, o guardião do nosso passado, da nossa vida, o registro do que vivemos. A fotografia depende do olho de quem a faz e de quem a observa. Pode ser definida como arte ou como documento, se assim for o objetivo.

 

 

 

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