Olívia de Cássia Cerqueira
O tempo
passou, rápido feito um furacão, levando para o infinito alguns sonhos que não
pude realizar. O tempo voou e para alguns com mais dureza.
Talvez, quem
sabe, em outra dimensão, se outra chance eu tiver, eu possa conseguir desvendar
os mistérios. Acordei pensativa. São muitas as perguntas que me faço, nos
momentos de fraqueza.
Por que fui
escolhida para carregar essa cruz?, me interrogo por vezes. Cada um tem a sua para carregar, como dizia
meu saudoso irmão. Não é fácil. A velhice nos traz algumas certezas e por
conseguinte mais dúvidas e talvez, dizem, sabedoria. Duvido de muitas certezas.
Quando a gente cresce, alguns ideais são
desfeitos ou substituídos por outras situações. Eu queria ainda ter tempo.
Tempo de realizar muito mais, aproveitado mais, como diz a música dos Titãs.
Mas essas
querelas não estão no meu querer. Cada vez que me olho no espelho me assusto
com a imagem debilitada que tenho agora. E começo a fazer comparações.
Outro dia
fui revisitar os álbuns de fotos. Não bastou ir muito longe e me deu saudade. Cada
idade tem a sua época e posso dizer que tento não me impressionar e ser
negativa, para continuar a viver.
Já falei em
outras ocasiões que tive o privilégio de fazer amizade com várias gerações na
minha cidade natal, mas isso também tem muito tempo. Nunca fui CDF, mas não deixava de estudar por conta das
brincadeiras e saídas no fim de semana.
Sonhava com
outro mundo. Eu sabia que minha seara não era fazer cursos que exigiam tanto de
mim. A área de humanas sempre foi meu forte, coisa que minha mãe dizia, não
dava dinheiro.
Meu lado era de sonhos, leituras, poesias, amizades, músicas e viagens que nunca fazia e ficava sonhando embalada na vivência dos meus amigos viajantes. Um lado mais suave da vida, que sempre tive afinidade. Os amigos, a maioria se foi. Alguns para a eternidade e outros que ainda tenho a chance de encontrar vez ou outra.
Os valores da gente de hoje já não são mais os mesmos. A gente não percebe as mudanças que acontecem dentro de nós. E quando menos esperamos, acontece uma transformação, sem que tenhamos noção de como tudo se deu.
Mudamos de
repente, como se algo tivesse acontecido, uma revolução interior, que muitas
vezes não sabemos explicar. Você amadurece com o sofrimento, com experiências e
as vivências… Isso é maturidade.
A menina que existia em mim não morreu, mas foi se amoldando ao tempo; aprendeu a conviver com as complicações que vão surgindo. Quando falta a saúde, tudo o mais se descontrola, mas a gente tenta administrar. Dizem os escritores que o tempo é como o vento; ambos são soberanos.
Quando a
gente é criança tem mais tempo para viver e para sonhar, para observar o vento,
para ver o balanço das folhas, o deslocar das nuvens.
Eu ficava
deitada no colo do meu avô observando os carneirinhos que se formavam nas
nuvens, à noite, na porta da mercearia do meu pai.
Cada mudança
das nuvens era um animalzinho que se formava e mostrava pro meu avô, que
sorridente participava de todos os meus sonhos e fantasias de criança.
Tinha mais
tempo, tempo pra viver e para sonhar, mas só percebemos que o tempo passou
quando olhamos para dentro de nós e não vemos mais aquela criança sonhadora e
pura.
O vento foi
tomando conta de tudo, levando os restos de esperança daquela menina acanhada e
sonhadora que eu era. O tempo mudou o rumo da minha vida, só não sei dizer se
foi para melhor.
2 comentários:
excelente txt e visão de vida.
Grata
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