segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Juca e minhas divagações

 



Olívia de Cássia Cerqueira

 

Juca, um dos meus bebês de quatro patas, é muito dócil. Quando bebê ele encantava minhas visitas chamando-as para jogar bolinha com ele. Hoje com três anos, quase já não faz mais isso. Sua pelagem mudou e está ficando com alguns pelos brancos, sinais de velhice precoce.

A velhice vai trazendo várias limitações: assim como meus pets estão envelhecendo, no meu caso, associada à Ataxia, sinto os sinais da velhice a cada dia. Pele amolecida, peitos de pêra, papadas, olhar atrapalhado, andar cambaleante,  tombando feito bêbada e outros sintomas que poderia me deixar envergonhada; horríveis. Preciso me movimentar, fazer mais exercícios, movimentar o corpo, mas nem sempre faço isso.

A gente não percebe o tempo passar. De repente, já foi. Perdi muito tempo da mocidade me importando e dando valor ao que não devia. Não é que eu não tenha aproveitado a juventude. Isso eu não posso dizer, mas eu poderia ter sido mais feliz naquele tempo, como sou agora na maturidade, apesar das limitações.

Devia ter aproveitado mais naquele tempo de juventude, como diz a música, e não ter deixado que a angústia tomasse conta de mim, me tornando uma adolescente depressiva. Durante muito tempo um sentimento de culpa me acompanhava e não me deixava ser feliz.

Naquela época não tínhamos noção de que eu já precisava de um profissional para me ouvir e me orientar. Mas eu não tinha essa orientação e me valia dos conselhos e conversas com as mães das minhas amigas e das minhas leituras, que me salvaram de mim.

Dizem que “o sentimento de culpa surge quando alguém se arrepende por alguma atitude que tomou ou quando não aceita os seus defeitos, erros, fraquezas e até mesmo a sua insignificância na condição de ser humano”.

Avaliam que “este sentimento atinge com mais força as pessoas que possuem uma espécie de delírio de grandeza e querem ser perfeitas. Afinal, elas se pressionarão mais e terão dificuldades em admitir os seus erros”, analisam.

Não sei se foi o que aconteceu comigo, mas em alguns momentos da minha vida, é verdade, me senti culpada e sempre pedia clemência ao Senhor para não me fazer uma pessoa do mal. Parece coisa de criança, mas ainda hoje me pego fazendo aquelas orações da infância, na esperança de que algum ser superior, Deus ou um anjo de luz me salve de todo o mal.

Apesar de adulta e já na terceira  idade, portadora de uma doença neurodegenerativa,  me pego cheia de sonhos ainda e triste com os rumos que o mundo está tomando. Aonde a humanidade vai chegar?, é o que me pergunto todo dia. Fica a reflexão. Boa noite.

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