sábado, 23 de junho de 2018

Os quintais da minha infância ...


Olivia de Cássia

As quatro casas em que morei em União dos Palmares tinham amplos quintais onde minha mãe plantava muitas fruteiras, verduras e outras culturas. Os quintais eram os locais onde o meio ambiente era preservado em primeiro lugar na família. Esses quintais nos proporcionaram momentos felizes e era onde nós passávamos grande parte do nosso tempo na infância.

Na casa vizinha a dona Nova, irmã de Lala da farmácia, onde moramos nos primeiros anos da década de 60, época em que se iniciou a ditadura militar no Brasil, havia enormes pés de mangas que além de produzir gostosas frutas, era onde mamãe armava redes pra gente se balançar e brincar durante o dia.

Também nos quintais das minhas tias Ester e Renalva, meias-irmãs do meu pai e da minha avó-madrasta Nenem os quintais eram amplos. Eu ainda tomava leite na porta de casa, deitada com meu travesseirinho, nunca me esqueço disso. Fizemos muitas amizades por lá: Toinho Matias e família, Madalena Oliveira, seu Purdeu (que eu chamava de avô), seu Bilú, a família Praxedes, seu Leão, pai de dona Carminha e avô de Praxedes, e tantos outros personagens como meu tio José, filho de vó Nenem.

Na Rua da Ponte, as duas casas que moramos por lá também tinham amplos quintais. Na casa da mercearia, o quintal terminava no Rio Mundaú. Tinha pé de ingá, pau ferro, goiabeira e pitomba. O pé de ingá servia de poleiro para as galinhas que mamãe criava e o pé de pau ferro era onde subiam os cassacos que dona Antônia matava com o seu revólver balaú.

Na outra casa, a da grande cacimba, tinha pé de goiaba e manga e mamãe plantava inhame, verduras e outras culturas. A cerca era de madeira e arame farpado e tinha vários pés de bucha vegetal enrolados nela. Vizinho a essa casa tinha o armazém de compra e vendas de cereais que papai comprou do seu Zé Flor. No quintal do armazém tinha um pé de goiabeira onde eu ia brincar ou me refugiar com minhas amigas de infância, Marisa e Maria José, para escapar das surras que mamãe prometia quando eu chegava toda molhada dos banhos no tanque ou no Rio Mundaú.

Quando nos mudamos para a Rua Tavares Bastos, a casa não tinha quintal, mas o terreno vizinho que também era nosso tinha um imenso pé de manga, pé de pinha e de goiaba. Todas essas fruteiras fizeram parte da infância já tão distante e saudosa. Em todas essas ruas as crianças brincavam e faziam suas traquinagens infantis.

Na casa das minhas amigas Yelnya e Yelma Cardoso, o quintal era grande, mas o nosso interesse era pelo pé de sapoti da casa vizinha do seu Silvino, pai do nosso amigo Mano Plínio. Sendo assim, nós subíamos no muro para tirar os sapotis de lá, escondê-los no forno do fogão quando não estavam muito maduros, para depois comer. Outro grande quintal que eu era fascinada era o da avó de Yelnya, dona Luíza Cardoso, local de muitas fruteiras onde também gostávamos de passear.

Hoje em dia, por falta de espaço e pelo crescimento das cidades não existem mais quintais como antigamente: eles quase que foram engolidos pelo urbanismo exagerado e foram substituídos por outras construções, por necessidade de mais espaço, mas eles trazem muitas lembranças para quem teve essas experiências de vida saudável, quem teve infância no interior e casas espaçosas para suas brincadeiras.

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