domingo, 24 de junho de 2018

A fogueira está queimando...


Por Olívia de Cássia Cerqueira - 24 de junho de 2018.

Muito tempo se passou até eu chegar à presente data; eu não imaginava que pudesse um dia viver até aqui e vivenciar a atual conjuntura política e social, não só no Brasil, mas no mundo. O atraso e o retrocesso que nos surpreendeu de tal forma, nos deixando estarrecidos. Mas vamos lá.

Ontem, véspera dos festejos referentes ao dia de São João, eu comentava que é interessante e reflexivo, como a gente muda de perspectiva e de foco, com o passar dos anos. Pelo menos para mim foi assim.

A cada idade e fase da vida, os interesses vão se moldando à idade. “Todos nós construímos um mapa da realidade a partir das experiências vividas na infância. Assim, é possível, e muito mais eficiente, lançar os valores e fundamentos éticos da cidadania e da cultura de paz nessa primeira fase da vida, uma vez que a criança é dotada de capacidade absorvente, isto é, ela é aquela que tudo recebe, julga com imaturidade, pouco recusa ou reage”, observa texto do Instituto de Zero a Seis, no site https://zeroaseis.org.br/o-instituto/primeira-infância.

Quando resolvi escrever Mosaicos do Tempo estava com depressão, saí da terapia e fui escrever, pensando em deixar registradas as minhas histórias e impressões da vida e tudo o que vivenciei para que os sobrinhos e descendentes tivessem conhecimento das minhas emoções e vivências, antes que a Ataxia me tirasse o senso e me impossibilitasse de fazer esse registro.

E fui falar de coisas tais quais eu lembro agora. À época de adolescente eu saía todos os dias com as amigas, ia para festas e danceterias e viva tudo aquilo, como se fossem os últimos momentos, causando muita preocupação à minha mãe, que já à aquela época se preocupava com que eu não me envolvesse com situações perigosas, como toda mãe, embora eu não a entendesse; achava tudo aquilo exagero e ignorância da parte dela. Hoje vejo de outra forma e se pensasse assim naquele tempo, nossa convivência teria sido diferente. Mas tudo na vida tem seu preço.

O tempo vai passando, a idade vai nos moldando e nos levando para outros caminhos. Hoje em dia prefiro ficar mais sossegada, em casa, com minhas leituras, meus filhotes de quatro patas; se não uma saída para ir ao cinema, ver exposições, ou outra atividade cultural, a não ser que eu tenha oportunidade de fazer alguma viagem.

Como é bom viajar, ver novas pessoas, paisagens. Quero ainda me dar oportunidade de fazer isso, pois perdi muito tempo e quase toda a mocidade, renunciando a muita coisa das quais sempre fui apaixonada. Mas essa é outra discussão.

Tenho pensado muito que nessa época de festejos juninos, já não se preservam as tradições das festas nordestinas e ontem ouvia o cantor Santana, desabafando e reclamando disso numa rede social. Falava ele e concordo em gênero, número e grau, sobre a invasão do sertanejo no São João nordestino.

Vi na TV algumas cenas de festas no país e no Nordeste, onde a grande parte das atrações era de cantores sertanejos, descaracterizando a nossa festa e a nossa cultura. O cancioneiro nordestino é muito rico, principalmente o forró pé de serra, para ser preterido por outras tendências musicais do Sul do país e de outras regiões. O apelo da mídia, que só quer faturar e incorporar esses registros está predominando em todas as festas por aqui.

Lembro como se tivesse acontecido há pouco tempo, do saudoso palhoção da Festa do Milho em União dos Palmares. Dava gosto aos palmarinos. A Praça Basiliano Sarmento, local dos principais eventos da cidade, ficava lotava para ver as principais atrações do nosso forró e até Luiz Gonzaga deu o ar da graça, infelizmente sendo vaiado pela população desinformada e sem formação cultural.

Àquela época, além do forró, que acontecia na parte central da praça, muitos moradores comemorava à frente de suas casas, com a vizinhança. Com fogueiras, milho assado, canjica, churrasco, dança matuta e muita conversa. Cada um à sua maneira, sem essa violência desenfreada dos dias de hoje, que nos obriga a ficar enclausurados, o que não significa, principalmente nas grandes cidades, que se esteja seguro.

E os pensamentos voam longe, se misturando desordenadamente, talvez pelo peso da idade e pela saúde debilitada. Me vêm as lembranças da minha luta para conciliar os estudos com a diversão, e a companhia dos amigos da época, que nunca abria mão. Eu acreditava que fossem durar para sempre. E mais as minhas questões filosóficas, que eu já vivia na juventude, mesmo sem ter discernimento de que o fossem realmente.

Procuro aliviar minhas dores físicas e da alma, com pensamentos suaves, otimistas, tentando me deixar levar por lembranças boas daquele tempo, e que sejam de positividade, persistência e amor. Enquanto tudo isso acontece, “a fogueira está queimando, em homenagem a São João”.

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