quarta-feira, 13 de março de 2019

Não quero isso pra mim

Olívia de Cássia Cerqueira - jornalista e escritora


Não quero esse mundo pra mim. Não foi esse o país que sonhei. Estamos vivendo dias de ódio e desamor. Como disse um autor que não lembro agora o nome, "o Brasil está na triste imitação aos EUA". É uma lamentável constatação.

É muita notícia ruim, muita coisa negativa todo dia. Procuro me afastar um pouco de tudo isso, procuro suavidade em minha vida, diante de situação de limites do meu corpo, mas é impossível não se indignar com o que estamos vivendo em nosso lindo país. Triste fim.

Ainda teremos quatro anos de retrocesso e notícias escabrosas. O delegado que desvendou o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista foi afastado, depois de citar que um dos assassinos mora no condomínio do “presidente”. Entre aspas mesmo, porque pra mim esse senhor não me representa.

Um dia depois, dois adolescentes ensandecidos invadem uma escola e matam dez pessoas, até agora, segundo o último boletim médico, fere outras tantas e se matam. A blogueira Helena Chagas escreveu no blog Divergentes, que são de congelar o sangue os gritos de pavor dos adolescentes que se defrotaram com os atiradores em sua escola em Suzano.

Fico me perguntando se isso não é o resultado do ódio espalhado nas redes sociais e a propaganda do armamento da população por membros do desgoverno. É uma tragédia atrás da outra e a imprensa explora, “até o último sumago”, como diria minha mãe, talvez para que esqueçamos das anteriores.

Mas não podemos e não devemos esquecer: quem matou Marielle e seu motorista? Agora vejo a notícia do afastamento do delegado, “para fazer especialização na Itália”. Só pode ser piada ou cortina de fumaça, para esconder o óbvio.

Quando da morte da vereadora, o então ministro Raul Jugman disse que havia políticos poderosos envolvidos no crime. Vejo hoje em sites confiáveis que arma com inscrição dos Fuzileiros Navais dos EUA é encontrada no arsenal da milícia. Publicado no Brasil de Fato.

“A Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendeu 117 armas na residência de um amigo do policial militar Ronnie Lessa, suspeito de ter executado a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, há um ano. Em uma foto divulgada do material apreendido, consta um componente de um fuzil M27 com inscrição dos Fuzileiros Navais dos EUA [USMC, em inglês]”.

“O M27 é produzido pela Heckler & Koch, empresa de armas alemã que também tem fábricas nos EUA, na França e no Reino Unido. O modelo se tornou o fuzil padrão dos Fuzileiros Navais dos EUA em 2018”.

Enquanto isso o tal que está na presidência diz que precisamos nos igualar aos EUA. Não precisamos disso. E no mesmo dia do massacre, ele anuncia que vai flexibilizar porte de armas.

Toda a violência que já temos não vai diminuir com a liberação de armas, isso já está claro e pelo contrário, só vai incentivar os loucos ainda mais a saírem matando por aí. E segundo a ex-presidente Dilma, injustiçada e expulsa da presidência em 2016, “a lei anticrime de Moro é o encontro marcado com tragédias como a de Suzano” . E o retrocesso continua, até quando, depende de nós.

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