domingo, 29 de dezembro de 2024

A lavadeira Maria Rosa e a Rua da Ponte

Foto: José Marcelo Pereira


 Olivia de Cássia Cerqueira


Nos anos 1960, na Rua Demócrito Gracindo, conhecida como Rua da Ponte, viviam a lavadeira Maria Rosa e sua família. Nessa época, o Brasil passou a viver os chamados anos de chumbo, com impedimentos das liberdades. Mas Maria Rosa e os seus desconheciam o que se passava no País, assim como a maioria da população.

Eles seguiam sua rotina, sem tomar conhecimento de assuntos complicados, além daqueles do seu dia a dia.. As notícias sobre as ações dos militares como as prisões e tortura não eram divulgadas até então, pelo menos para maioria daqueles moradores, trabalhadores ou desafortunados diversos. O País passou por grandes transformações, como a revolução cultural, a participação popular em questões sociais e políticas e o Aprofundamento do processo de industrialização. No interior, o trabalho rural continuava a ser realizado com engenhos que moviam culturas como o a cana de açúcar, milho e o algodão. A moeda era o Cruzeiro (1942-1967); depois Cruzeiro novo (1967-1970).

A década de 60 foi marcada por acontecimentos políticos e sociais turbulentos, como a renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, assumindo João Goulart, ou Jango, como era conhecido, empossado na presidência da República, em 7 de setembro do mesmo ano.  Além disso, teve a aprovação pelo Congresso da emenda constitucional que instaurou o regime parlamentarista de governo; fechamento do Congresso; muitas mudanças de governo; subversão armada; luta estudantil; guerrilha e tortura. No cenário cultural, a década foi marcada pelo surgimento do Tropicalismo e da Jovem Guarda; a popularização do Rock and Roll e valorização do estilo individual; os jovens defendendo o seu estilo de vida e de se vestir.

No final da década, em 1969, aconteceu um grande festival que revolucionaria os costumes. O festival de woodstock, que  foi um evento musical que aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, na fazenda de Max Yasgur, em Bethel, Nova York, nos Estados Unidos e foi um marco da contracultura e da música da década.  (*).

***

A lavadeira Maria Rosa era religiosa, devota de Santa Maria Madalena; ia todos os domingos à missa, e desconhecia qualquer informação que não fosse do seu dia a dia e se concentrava na família e no seu trabalho, para sustentar a família. Morava próximo à fábrica de doces, no final da Rua da Ponte, alheia ao que se passava no País e no mundo. Sabia apenas o que conversava com as amigas, quando estava lavando roupas ou fazendo outra tarefa do dia, como lavar pratos e tomar banho de rio.

Maria Rossa dava duro para colocar comida na mesa, visto que o marido, José da Rosa, como era conhecido o mancebo, não tinha emprego fixo e vivia de pequenos biscates, quando aparecia. Tinha uma vida de mistérios. A mulher lavava e passava para várias famílias na terra da liberdade. Passava as roupas com ferro de brasa, quando sequer tinha água encanada na Rua da Ponte e os eletrodomésticos eram raros ou não existiam para as populações pouco ou nada assistidas. Àquela época o Mundaú não tinha um alto grau de poluição, como nos dias de hoje. Quando terminava de passar e dobrar cada trouxa de roupa, ela ia fazer entrega com a filha mais velha, Rosa Maria. 

Analfabeta, décima filha de pais pretos, nasceu no povoado quilombola Muquém, cuja população sobrevive até os dias atuais da venda de peças feitas do barro e agora da preservação da cultura negra. Panelas potes, quartinhas, frigideiras, moringas e tudo o que eles produziam e produzem nos dias atuais são vendidos na feira livre de União dos Palmares, aos sábados. A maioria do trabalho feito por mulheres. 

José da Rosa e Maria Rosa se conheceram na festa da Rua da Ponte, que era uma atração para os moradores, com seus barquinhos verdes, puxados por corda, até chegarem às alturas. Na festa, a animação ficava por conta das quermesses, pescarias e iguarias como carne assada, cachorro quente e maçã do amor, que faziam a animação dos moradores. Além disso, músicas românticas, por meio de alto falante corneta e bebidas.

Quando tinha festa, fosse na Rua da Ponte ou na Rua do Jatobá, do outro lado do rio, homens saiam pelas ruas com a imagem da santa, ou do santo padroeiro, durante o dia, jogando um pano branco no ombro, tocando pífano e zabumba, pedindo contribuição aos devotos que quisessem ajudar. assim se dava nas festas do interior mais longínquo do País e em União dos Palmares, em Alagoas, não era diferente e muitos bairros adotavam as festas de rua, com seu santo padroeiro.

Maria Rosa e José da Rosa, começaram a namorar e foi tudo muito rápido, até irem morar junto, mas não casaram no padre ou no cartório. Viviam, popularmente falando, amasiados. E ela não se ligava muito a essas tradições e burocracias da sociedade dominante. Tiveram quatro filhos, todos nasceram de parto normal: Rosa Maria, Maria José, Maria Quitéria e José Joaquim, o Quinzinho, que não cansava de dar preocupação para Maria Rosa, por causa das suas traquinagens.

A mãe lhe dava conselhos e temia pelo seu futuro, e quando José chegava em casa à noite, pedia que o marido conversasse com Quinzinho, mostrando-lhe os perigos do mundo. O marido, por sua vez, achava ser tudo exagero da mulher e não tomava nenhuma atitude.

Tentava uma conversa franca e aberta com seu marido sobre suas preocupações e expectativas em relação ao relacionamento e o com comportamento do filho, mas de nada adiantava. Na realidade, José não queria se envolver com nada que dissesse respeito a sua casa e a mulher estranhava aquele comportamento.

Achava esquisito aquele modo de agir de José, mas ela silenciava, para não comprar brigas maiores.  No entanto, alguma coisa estava fora de ordem, pensava. Maria Rosa, em momentos de aflição, pedia proteção para os filhos:

“Meu Senhor e meu Deus, proteja minha família de todos os males do mundo. Minha santinha, Maria Madalena, intercede junto ao Senhor Jesus Cristo, para que nada de ruim aconteça com meus filhos. Amém”.

Num dia da sua rotina diária e   conversando com as amigas; colocando suas preocupações, uma delas sugeriu que falasse com a esposa do prefeito, dona Constância Madalena, para quem Maria Rosa lavava roupa e engomava, solicitando que a mulher arrumasse um colégio interno para o filho.

O menino era muito sabido, inteligente, mas chegou na adolescência dando muito trabalho para Maria Rosa. Ele via a situação da mãe na labuta, era revoltado com o pai, José da Rosa, que não era de agrados, nem com os filhos, nem com a mulher. Era sisudo e misterioso, além de conservador e um tanto quanto ignorante com todos em casa, e Maria Rosa evitava discutir com ele, se fechando “em copas”, quando devia questioná-lo.

Rosa Maria, a filha mais velha, se atrasara nos estudos e fazia o Mobral, com a professora Josete Maria, com quem aprendeu as primeiras letras, na Escolinha do Bangu, que décadas depois foi levada por uma das enchentes, acontecida em 1989. O Mobral era o antigo programa de alfabetização do governo, que anos depois foi substituído pelo EJA – Educação de Jovens e Adultos, criado para quem se atrasou nos[O1]  estudos.

Rosa Maria estudava à noite, visto que durante o dia, quando não estava ajudando a mãe na lida doméstica e com as roupas das clientes, aproveitava para aprender a trabalhar com o barro, com os fazedores de panelas da Rua da Ponte. Queria sair de casa, casar e constituir família, mas não achava tempo para sair com amigas e conhecer rapazes, já que vivia para ajudar a mãe a criar os irmãos, aprender a lidar com o barro e tentar se adiantar nos estudos. E ela cumpria sua sina, andando pelas ruas e becos da cidade, entregando as roupas lavadas, com muito cuidado.

Era uma tradição no interior de Alagoas, assim como em outros estados do país o exercício de lavar roupa à beira dos rios e nos açudes quando estavam cheios, às primeiras horas do dia ou do fim da tarde.  As mulheres usavam pedras ou tábuas como se fossem a parte do tanque e que serviam para esfregar e bater as peças usadas no dia a dia e também roupas de cama, mesa e banho.

E para muitas dessas mulheres, lavar roupa era também uma profissão, mesmo em condições, muitas vezes precárias. Era dali que saia o dinheiro que ajudava a manter as contas em dia, comprar o alimento e tudo mais que era necessário para educar os filhos. Com a poluição dos rios, açudes e lagoas, a chegada de água nas casas, avanço das tecnologias, essa atividade foi acabando, ficando restrita em alguns povoados longínquos.Parte inferior do formulário

O escritor alagoano Graciliano Ramos, na obra Linhas Tortas (1962) disse que: “O ofício de escrever deveria ser realizado com o mesmo rigor que as lavadeiras de Alagoas fazem o seu trabalho: elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes”.

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As dificuldades para os moradores da Rua da Ponte, principalmente para as donas de casa, eram enormes. Da mesma forma que não havia água encanada e nem para beber, nos anos 60, a maioria da gente da Demócrito Gracindo e das proximidades se valiam das cacimbas das fazendas, para obterem água limpa para beber. Era comum a romaria de mulheres e crianças com latas d’água na cabeça, até o local da cacimba e vice-versa. Quando chegavam em casa, colocavam um pano limpo na boca do pote ou de outro recipiente, para que aquela água fosse coada e pudesse ser consumida.

A Rua da Ponte chegou a ter uma fábrica de doces, próxima a casa da família de Maria Rosa. Alguns moradores do município, eram empregados da fábrica, que depois veio a falir e fechou, deixando alguns trabalhadores desempregados, pois a opção de emprego na cidade era escassa naquele tempo. O prédio ficou em ruínas, até que a enchente de 2010 levou tudo. Nos fundos da Fábrica de doces, a gente da rua também aproveitava para tirar o barro, para fazer panelas, quando a lagoa, braço do Rio Mundaú, estava seca.

Já os moradores dos sítios e dos povoados, depois que vendiam os produtos, na feira livre, iam fazer as compras semanais e de mês nas mercearias do lado de baixo da cidade. Alguns adolescentes de União tiveram seus primeiros empregos despachando e ajudando nas mercearias, de União dos Palmares.

Maria Rosa também fazia as compras do mês em uma mercearia, no começo da Rua da Ponte; comprava fiado e pagava quando recebia das clientes. Era assim que funcionava esse tipo de comércio: a maioria na confiança de quem vendia, que anotava tudo em um caderno ou caderneta. Na Rua da Ponte também tinha nessa época uma fábrica rústica de colchão de capim, do “seu” Francisco, um armazém de compras e vendas de cereais, de João Jonas (nosso pai, que também tinha bodega, como ele chamava), um hotel do sr. José Otacílio (Zeca), quando a entrada principal de União dos Palmares acontecia naquela região, e os viajantes transitavam pela ponte rústica de madeira, desativada pelas enchentes, no povoado Cabeça de Porco.

Além disso, mulheres idosas que benziam a pessoa, ou algum animal doméstico de algum mal. O bar do sr. Antônio Timóteo e do Lourão; o alambique do sr Orlando Baia, que fabricava vinagre, Cajuvita e cachaça; a oficina mecânica do sr. Abdon Copertino e também paragem de ônibus para Garanhuns, local de espera para Mundaú Mirim, como era denominada a hoje cidade Santana do Mundaú.

Todo esse aparato movimentava a economia local. A Rua da Ponte sempre foi uma das mais importantes e queridas ruas da região, pela sua importância, para o desenvolvimento do município, pois o movimento de ônibus e carros que abasteciam o mercado interno era sempre por ali.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Palavras da autora



Olivia de Cássia Cerqueira

 

Pela primeira vez me arrisco na “ficção”. É este “Antes que seja tarde” o meu quinto livro, que espero não ser rejeitado. Pensei que encerraria meu ciclo de pequena (quase ínfima) escritora independente, com Ainda Ontem, meu livro de crônicas recém lançado, que está tendo grande aceitação.

Antes da seção de autógrafos do pequeno livro de crônicas e no dia do trágico acidente acontecido na Serra da Barriga, na tarde de domingo, 24 de novembro, que vitimou 20 pessoas, em que um ônibus desceu uma ribanceira, fiquei sem acreditar naquela tragédia e resolvi que não ia parar de escrever, pois a vida é muito breve e tanto a leitura quanto a escrita me ajudam a estimular meu cérebro.

E lá estava eu escrevendo a história de uma lavadeira, passada na saudosa Rua da Ponte, lugar onde nasci e de onde tenho memórias afetivas da infância. Trata-se da história de Maria Rosa e sua família, com seus problemas, mas com muita fé e otimismo.




sábado, 26 de outubro de 2024

Aqui dentro tudo é igual

 


Olívia de Cássia Cerqueira

 

Aqui dentro está tudo igual. Lá fora os bem-te-vis e outros pássaros que não sei identificar, fazem a festa. É primavera, mas no Nordeste do Brasil, já é verão. Acordo às 4h de vez. Antes, levanto para ir ao banheiro e beber água.

Ligo a TV e vou cumprir minha rotina diária, enquanto posso. Avalio que se não me movimentasse para cumpri-las, já teria parado de vez.

Coloco água para ferver, para preparar o café, com muito cuidado, para não me queimar. Preparo a proteína, a fruta e agradeço a Deus por mais um dia.

A Rinite alérgica me incomoda. Muito vento e poeira no horário da tarde; é a natureza se revelando. Faço chá de limão com alho, pelo motivo de que os remédios de farmácia já não resolvem satisfatoriamente.

Ouço as noticias da TV e me incomodo com tanta violência diária, guerras insanas, brigas pelo poder e muito mau-caratismo. As informações políticas daqui e dali nos entristece. Por outro lado, é preciso ter esperança, apesar de tudo.

Ouço o barulho do mar lá longe e as ondas se quebrando, na praia da Avenida que pede cuidados. Faz muitos anos que já não a frequento, por conta da poluição.

Nos meados das décadas de 70 e 80, era frequente a nossa presença ali. Éramos adolescentes e a moda da vez, era ficarmos bem bronzeadas, com a marca do biquini.

 Vinha de União dos Palmares, para encontrar parentes e era uma festa diária esse costume.  Com a Avenida poluída, o banho de mar, quando tinha equilíbrio e força nas pernas, e já recentemente, pegava meu material de praia, pegava a van no posto de gasolina e ia à praia do Francês, pertinho de Maceió.

Hoje isso não mais acontece, mas é bom a gente ter lembranças para compartilhar e eu tenho muitas, basta colocá-las pra fora.. Bom dia.

 

 

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Herança ou ignorância?


Olívia de Cassia Cerqueira

 (foto de arquivo)

Minha mãe contava (talvez faça parte da minha imaginação) que para contrair matrimônio com meu pai, eles enviaram sangue papa daquela época benzer.  Não sei se já na imaginação daquela época, evitaria doenças dos filhos, já que eram primos consanguíneos.

Numa pesquisa rápida na internet, observei que alguns casais católicos solicitam a bênção. De acordo com o site oficial (da Igreja Católica) apenas recém-casados podem receber a benção do Papa, em Roma”.

Hoje em dia, segundo o site oficial, o pedido pode ser solicitado via internet. Além disso, o casal precisa enviar uma certidão de casamento e documentos pessoais.

Meu irmão mais velho, Petrúcio, que foi coroinha aos doze anos em Jaboatão dos Guararapes e Carpina, em Pernambuco, me contou que no caso de parentes até o quarto grau, a Igreja pede autorização ao bispo, que por sua vez encaminha ao Papa o pedido.

E por essa exigência meus pais esperaram para casar, por causa da consanguinidade, mas que no caso do envio do sangue, ele não tem conhecimento.

Eu fico me perguntando se todos esses familiares nossos que tiveram ou têm Ataxia, fizeram esse pedido e os que casaram apenas no cartório ou passaram a morar junto, não têm conhecimento ou não tiveram sobre essa informação.

O site da Sociedade Brasileira de Genética Médica informa o que já temos conhecimento empírico: “Quando os pais compartilham um antepassado comum, há uma maior chance de ambos terem os mesmos genes defeituosos”, pontua.

“Se ambos os pais tiverem o mesmo gene defeituoso, há uma maior chance de ter um filho com uma condição genética. A forma mais comum de relacionamento consanguíneo é entre primos e em algumas sociedades e culturas pode representar uma proporção significativa dos casamentos”.

E as informações apontam para mim o que se vem dizendo há anos a respeito das heranças. Ou seja: para não dividirem bens com pessoas que não fossem da família esses casamentos aconteceram no passado. E hoje em dia, será ignorância? O costume dos antepassados até se entende, mas o de agora?

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Onde os sonhos acontecem


Olívia de Cássia Cerqueira

 

Parecia que tudo era um caos, parodiando o filósofo grego Anaxágoras, filósofo e matemático grego, até eu conhecer o mundo adulto.

Achávamos que quando chegássemos lá, teríamos o “poder” das grandes decisões sobre nós e nossas vidas e não contávamos com as adversidades que viriam.

As brincadeiras de criança e os encontros e conversas com amigas não nos faziam parar para pensar no quanto éramos felizes. Ou não tínhamos dimensão disso.

Os encontros para estudar matemática, disciplina que nunca entendi, e fazer comidinhas enquanto nós conversávamos com as amigas eram muito bons e proveitosos, embora não tenha feito melhor nessa disciplina.

“Tanto o jogo quanto a brincadeira, tem um papel muito importante, é preciso deixar a criança em total liberdade seja sozinha ou em grupo, para assim, desenvolver um momento de explorar a imaginação, o prazer, a alegria, raciocínio e habilidade”, pontua a Cartilha Feliz, do Governo Federal, disponibilizadas na internet.

No nosso tempo de antigamente, como dizemos nós mais velhos, não se tinha a riqueza de recursos que se tem agora na educação, tanto a infantil quanto a educação fundamental  de hoje e do ensino médio e nem sei se há um aproveitamento no que diz respeito a isso, pois o que tenho acompanhado é superficial.

Mas voltando ao tema do texto,  como diz o dito popular, “de tanto remar contra a maré um dia a gente chega lá”. Ou não, como diria nosso ídolo Caetano.

O tempo passou. Estou velha, cheia de manias, “rabugenta” que muitas vezes nem eu me entendo. “Deus sabe o que faz”, é um mantra que se repete quando não se tem resposta para tudo ou quase tudo.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Festa da democracia



 Olívia de Cássia Cerqueira – Jornalista  aposentada (foto Inteligência artificial)

 

Este texto eu escrevi em 1º de setembro de 2009 para meu antigo blog, quando das eleições municipais; atualizei, mas verifiquei e v que não precisou muito; vejamos. Está chegando o dia da grande festa da democracia. Em 6 de outubro, brasileiros de todos os municípios vão escolher seus prefeitos e vereadores.

Será  uma eleição rápida, pois escolhermos apenas dois cargos: vereador e prefeito, em todos os municípios brasileiros. Cabe a cada um de nós escolher o que acharmos melhor e tiver mais trabalhos na comunidade, sem ofensas e sem xingamentos, livrando-nos dos aproveitadores dos menos favorecidos.

No período de campanha, os candidatos tiveram a oportunidade de mostrar seus planos de atuação, propostas de trabalho, programas de governo e a chance de conhecerem melhor os locais em que vivem, nas visitas que fizeram aos bairros e comunidades rurais de cada lugar. Vale lembrar que o eleitorado, de dez anos para cá, mudou e tem outro perfil.

No entanto, na prática, o que acontece é o mesmo de sempre: a população mais carente reclama que a maioria dos políticos só aparece na comunidade quando precisam de voto; depois da eleição, vencendo ou perdendo, abandonam o eleitorado.

Outra característica de uma política mal trabalhada são as fofocas, fuxicos, embates, disputas irregulares de espaço e muita puxada de tapete. Muitos  desses pretendentes a legisladores e chefes de executivos não estão desenvolvendo seu trabalho político com dignidade.

Acostumaram-se ao vício da compra de votos e à corrupção eleitoral para atingirem seus objetivos. Os eleitores, por sua vez, também, ainda, se acostumaram à velha política oligárquica dos coronéis e se submetem ao que eles ainda ditam em suas fazendas e currais, auxiliados por algumas ‘autoridades’ corruptas e sem escrúpulos.

A Justiça Eleitoral vem alertando, desde o começo, para que o eleitor não venda seu voto e que fiscalize se em sua cidade se está havendo irregularidades praticadas por algum candidato. 

Está mais do que comprovado que apesar da lei eleitoral mais rígida e da fiscalização por parte de alguns juízes sérios, a prática dos currais eleitorais, da compra de voto, da distribuição de dentaduras e óculos ainda está sendo adotada por grande parte dos candidatos, principalmente no interior do Estado onde as dificuldades são maiores e a fiscalização deixa muito a desejar.

Outro ponto a ser avaliado pelas autoridades é a questão da violência e da intolerância que aumenta também nesse período, bem como os assaltos a bancos. Inconformados com seus desafetos, muitos políticos cometem loucuras para conseguir se eleger e é bom que as autoridades fiquem de olho.

Meu pai era fanático por essa época do ano e gostava de circular pela cidade, quando ainda podia andar, para observar o desempenho dos candidatos, principalmente um deles fosse seu primo Afrânio Vergetti de Siqueira.

E nesse ponto herdei dele essa paixão e antigamente, quando a saúde ainda permitia,  eu me deslocava para União para participar das campanhas  e caminhadas dos meus candidatos e para votar no dia da festa da democracia.

domingo, 29 de setembro de 2024

Quarto livro

Foto Inteligência artificial


Olívia de Cássia Cerqueira

(29-09-2024)


Quando meus pais morreram, vi meu mundo cair: papai três antes que ela. Mamãe dizia que se ficasse viúva ia aproveitar a vida e viajar, o que não aconteceu.

Infelizmente não teve muito tempo:  virou estrelinha com a mesma idade que tinha meu quando faleceu, aos 76 anos, que mais pareciam 80 ou mais.

Passou sua infância e adolescência na roça plantando lavoura e capinando mato e quando veio para a cidade, já casada e com meu irmão mais velho com oito meses, fazendo trabalhos domésticos que não acabava nunca.

Pedi perdão a eles pelas mágoas que possa ter proporcionado. Nessa época ainda não morava sozinha, se é que eu possa considerar aquilo uma vida a dois, pois aquele que eu considerava companheiro de uma vida passava mais tempo em União dos Palmares do que comigo, em Maceió, onde fiz faculdade e me formei e onde tive meus empregos.

Apesentei ele a todos os amigos da faculdade e nenhum o discriminava pela sua condição social ou pelos seus poucos conhecimentos. E eu enfrentei “moinhos de vento” para ficar com ele.

Eu vivia cheia de angústias com as histórias que mamãe contava, daquele que eu, ingenuamente, achava que pudesse me acompanhar até ficarmos com os cabelos brancos e andarmos de mãos dadas, como ele dizia.

Hoje, passados mais de 30 anos e com a saúde comprometida, termino de organizar meu quarto livro (crônicas), encerrando um ciclo em minha vida.

O livro está na gráfica para os ajustes finais, antes de ser impresso. É a realização de mais um sonho que se torna realidade, não importa o que digam ou pensem.

Não sei se o “leitores” entenderão o título que escolhi, ou o tema dos meus escritos, que versam, em sua maioria sobre relatos da minha vida e suas debilidades sendo eu portadora de Ataxia spinocerebelar, uma doença neurodegenerativa. 

Nem sei se ainda tenho tempo para publicar outro livro.  São tantas limitações diárias que aumentam a cada dia, que prevejo a minha “feiúra” daqui para frente. Fico longe de espelhos para não me assustar com o que estou vendo.

Não ter com quem falar em casa sobre esse problema me dificulta um pouco, mas quem me garante que se eu tiver algum ou alguma auxiliar vai me facilitar a vida? Muitas vezes o que se arruma é mais confusão.

É isso que eu quero me fazer entender.  Tem dias que acordo e penso que não vou dar conta do recado. Sinto algumas dores no corpo todo. E seja lá como for, só colocarei uma pessoa estranha para me auxiliar, quando eu não tiver mais movimentos, da mesma forma que minha mãe não queria, mesmo não tendo essa herança miserável, embora fosse prima-irmã do meu pai.

Hoje a entendo perfeitamente, infelizmente um pouco tardiamente, mas restaram grandes ensinamento dela e de papai. Bom domingo Para todos.

A lavadeira Maria Rosa e a Rua da Ponte

Foto: José Marcelo Pereira  Olivia de Cássia Cerqueira Nos anos 1960, na Rua Demócrito Gracindo, conhecida como Rua da Ponte, viviam a lav...