segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Sobre a festa que não fui

 Fotos de Olívia Cerqueira (arquivo pessoal)


Olivia de Cerqueira

Passei todo o dia de ontem, 20 de novembro, lembrando da festa na Serra da Barriga, em União dos Palmares, no Dia da Consciência Negra.

 A última vez que fiz o trajeto a pé, foi em 2010, com Nádia Seabra. Chegamos exaustas e quase ao meio dia, mas valeu a pena. Depois continuei indo, fosse semanalmente, mensal ou anualmente.

Cada vez que eu ia lá, o sentimento era de renovação. Aquele solo sagrado sempre me encantou, pela afinidade que tenho com a temática da negritude e do povo preto. 


Comecei a me apaixonar pelo assunto desde muito cedo e quando começaram as festividades, nos anos 1980 do século XX, eu estava lá, registrando tudo.

Tenho fotos de muitas atividades lá. E sempre que retorno ali, uma emoção diferente acontece. Parece que nossos ancestrais estão vigilantes, para que nada de mal nos aconteça.

Quando foram se acelerando os sintomas da Ataxia, minha presença no dia 20 foi minguando, desde que tive uma sensação de desmaio, por conta do sol forte e falta de hidratação. Comecei a perceber que dali em diante, diminuiriam meus passeios à serra.

A paisagem é deslumbrante dos vales que se avista lá de cima. Nossa terra é linda; não é à toa que o povo de Zumbi escolheu o local para instalar o maior e mais importante quilombo do País, o maior símbolo de resistência e luta pela liberdade. 

Zumbi é referência da liberdade. Na Serra da Barriga a gente respira isso, o ar de liberdade. Não há no mundo nada melhor do que isso: a nossa independência e disposição para fazer o que quer que seja sem amarras e sem impedimentos.

O professor Dilson Moreira foi o pioneiro dessa luta na nossa terrinha e é bom a gente lembrar sempre disso. Pena que não viveu para ver o Memorial construído.

No primeiro ano de atividade dos movimentos que visitaram União dos Palmares, eu estava trabalhando na Usina Laginha. Lembro que foram para lá cerca de 20 ônibus da Salvador. Conheci alguns militantes da causa e dançamos a noite inteira de Avenida a fora.

Naquele dia a força e a beleza do povo negro tomaram conta da cidade, que ao som do Ilê Aye e outros grupos afros, percorreram a Avenida Monsenhor Clóvis, saindo da Rua Marechal Deodoro, em frente onde hoje é a prefeitura de União. 

Naquele dia os comerciantes fecharam as portas com medo de saques e parece que houve alguns exageros, mas nada que me pusesse medo, pelo contrário, eu fiquei foi muito emocionada com aquela primeira iniciativa. Houve desfiles em trajes típicos pelas ruas da cidade.

Uma pena que naquela época que eu não tivesse uma boa máquina fotográfica para o registro daquele fato histórico. Mesmo assim, arrisquei umas fotos de péssima qualidade, mas registrei. Uma pena que o preconceito racial em nosso país, cresceu tanto ao invés de ser o contrário.

Na atualidade, as máscaras caíram e de onde menos esperávamos, de alguns familiares e amigos próximos, foi revelado o preconceito racial, o fascismo e todos os ismos que sempre atrapalharam o crescimento da humanidade. Pense nisso!

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