quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Cheiro de memória

Olívia de Cássia Cerqueira

Eu não era uma pessoa feliz. Sempre busquei a igualdade e uma sociedade mais justa e mais fraterna; mas aquilo que eu vivi naquele tempo foi uma farsa; não conseguia enxergar o mau caratismo de quem se aproximou de mim apenas para tirar vantagem, pensando encontrar uma mulher de posses, a quem pudesse explorar e se gabar para seus amigos, como os mais velhos diziam antigamente.

Eu não conseguia enxergar a realidade, depois de uma separação e colocava a culpa daquilo que estava vivendo nos outros. Não admitia que aquela culpa fosse minha, por não enxergar o óbvio. Se alguém teve alguma culpa de todo sofrimento que passei, esse alguém fui eu.
Hoje avalio assim a minha história, já reportada em Mosaicos do Tempo, e tenho vergonha de pensar nas humilhações passadas, em ter sido submissa (apesar das minhas teorias feministas) tentando viver uma história que não era verdadeira.

Vivi um período de anulação pessoal, paralisei no tempo. Sabia que já tinha sintomas de Ataxia spinocerebelar, mas a depressão acelerou o processo, tenho certeza hoje, os meus sintomas se acentuaram.

Apesar de uma infinidade de limitações, posso dizer hoje que, depois de ter me libertado de um sentimento doentio e apenas de uma via, que sou feliz. Estou tentando viver suavemente, sem aquele peso e angústia que sentia. Tentando não errar tanto.
Quando a gente é jovem, muitas vezes não mede as consequência dos seus atos. Pensa que pode tudo; um tudo que nem sempre é o que se deve fazer. O mundo mudou. Mudamos todos nós, ainda bem.

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