sábado, 13 de outubro de 2018

Os desentendimentos de sempre

Por Olívia de Cássia Cerqueira

A divergência de opinião existem desde que vamos formando nosso caráter e tendo opiniões próprias. Dizem os estudiosos que o exercício do diálogo abre espaço para divergência de opiniões e leituras de mundo. E é assim que deve ser.

Segundo o site Congresso em Foco, “a grande polarização política nacional que leva pessoas a brigarem em grupos de WhatsApp, a desfazerem amizade no Facebook e que divide o Brasil há dois anos não é uma questão só local. Opinião política diferente é onde há mais tensão em países do mundo todo, segundo pesquisa da Ipsos realizada em 27 países, incluindo o Brasil”.

Ainda segundo o mesmo site, ao todo, foram ouvidas cerca de 20 mil pessoas. Pelo menos 44% dos entrevistados escolheram esse tema como um dos motivos causadores de conflitos entre familiares e amigos.

Em seguida, 36% das pessoas ouvidas no trabalho apontaram as diferenças entre ricos e pobres e outros 30% apontaram questões relativas a conflitos entre imigrantes e a população nativa de cada país.

Ainda muito miúda acompanhava meu pai aos comícios da oposição no começo dos anos 1970, em plena ditadura militar, quando existiam apenas dois partidos: a extrema direita representada pela Arena e as forças da oposição concentradas do antigo MDB, partido do saudoso Ulysses Guimarães.

A ditadura militar foi um período que se estendeu no país por 20 anos, quando pessoas foram mortas e torturadas por pensarem diferente e quererem um país melhor. Fico sem norte quando vejo pessoas esclarecidas defendendo o que tem de pior no Brasil e no mundo.

Embora meu pai fosse muito temeroso e não quisesse nos ver na rua, por conta da repressão política, ele era fanático por política e eleitor número 1 do nosso primo Afrânio Vergetti, porque ele acreditava nas suas idéias e tinha admiração pelo primo.

E assim me criei vendo desavenças entre vizinhos, que não eram simples desentendimentos de ideias. Chegou a haver mortes ao longo dos anos em União, por conta de brigas entre os simpatizantes do dois candidatos, assim como acontece nos dias de hoje, sendo que o ódio de hoje é bem maior. A intolerância é uma epidemia.

Qualquer semelhança com o momento atual, que está mais agravado, não é mera coincidência. Política e eleições eram eventos que o meu pai se entusiasmava e quando ainda andava ia de noite para o viaduto, reduto dos homens em União, para saber as novidades da conjuntura, pois naquela época os meios de informação eram escassos e tecnologia nem se sonhava ter.

Eu não entendia tudo aquilo, mas gostava de acompanhar papai aos comícios. O material de propaganda usado naquela época era muito primitivo: eram pequenas bandeirinhas com o nome e uma foto que pareciam xilogravura colados num palito parecido com os de churrasquinho.

Parecidos também com as bandeirolas distribuídas nas procissões do interior ou faixas mal feitas de murim, tecido usado pelas costureiras para forrar peças de roupas das suas freguesas. Além desse material, uma foto no mesmo estilo do candidato, distribuído aos eleitores.

Os candidatos da oposição, que eu e meu pai acompanhávamos, ficavam num palanque improvisado na carroceria de um caminhão, com um microfone que nem sempre funcionava. E ali Francisco Pimentesl, Moura Rocha, Mendonça Neto, José Costa, Marcos Freire, Afrânio Vergetti de Siqueira e correligionários davam o recado. Íamos também na boleia dos caminhões aos comicios no povoado Timbó.

Naquela época as forças de oposição se concentravam numa grande frente no antigo MDB, que aglomerava pessoas de vanguarda daquela época. Faziam discursos inflamados contra aquele momento de vergonha que o país passava.

E eu, com meus dez anos me emocionava, junto ao meu pai, sem entender aquele palavreado que já me tocava de alguma forma, me deixando fascinada. Mas também naquela época como nos dias atuais havia muita br4iga entre vizinhos e familiares tanto da Arena, que representava a extrema direita, quanto do MDB, da oposição.

Presenciei naquela época desavenças até dentro da igreja, quando pessoas desmaiavam e tinham crises estranhas, intrigas de vizinhos e amigos, partidários de Afrânio ou de Mano. Não pensem os leitores que a briga de idéias ou de preferências partidárias seja de agora, mesmo que o contexto fosse diferente.

Quando comecei a votar, sempre o fiz na oposição, aqueles que na minha visão de jovem pensavam no coletivo e nos menos favorecidos. Já na faculdade, nos primeiros dias, fui logo me engajando aos companheiros do movimento estudantil e ainda na época da ditadura, eu e minha amiga Ozana Pinto fazíamos campanha para o candidato José Costa, quando fomos impedidas pelos amigos do seu pai, o empresário Lula Pinto.

Estive nas ruas pelas Diretas-já, em quase todos os momentos. Fui à rua pedir o Fora Collor e sempre me engajei nas lutas sociais e por um mundo melhor e um país mais justo. Tem sido assim desde sempre, mesmo que agora a saúde não me permita mais estar nas ruas.

Continuarei a lutar, até que seja impedida fisicamente e chamada à casa do Pai, sem medo de ser feliz. Minha militância agora se dá nas redes sociais, onde tenho feito minha campanha para meu candidato, sem invadir página de ninguém.

Independente de qualquer resultado que tenha essa eleição, continuarei a lutar pelos meus ideais. Vejo nos dias de hoje um total retrocesso total de ideias, político e social, depois termos tido grandes conquistas no governo Lula.

As perspectivas do momento não são as melhores, se esse candidato da direita vier a assumir a presidência. Precisamos ficar atentos e continuar a nossa militância nesse segundo turno. Bom dia.

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