Olivia de Cassia Cerqueira
As dificuldades para os moradores da Rua da Ponte, principalmente para as donas de casa, eram muitas. Da mesma forma que não havia água encanada e nem para beber, nos anos 60, a maioria da gente da Demócrito Gracindo e das proximidades se valia das cacimbas das fazendas, para obter água limpa para beber.
Era comum a romaria de mulheres e crianças com
latas d’água na cabeça, até o local e vice-versa. Quando chegavam em casa,
colocavam um pano limpo na boca do pote ou de outro recipiente, para que aquela
água fosse coada e pudesse ser consumida.
A Rua da Ponte chegou a ter uma fábrica de
doces, próxima à casa da família de Maria Rosa. Alguns moradores do município
eram empregados da fábrica, que depois veio a falir e fechou, deixando alguns
trabalhadores desempregados, pois a opção de emprego na cidade já era escassa
naquele tempo. O prédio ficou em ruínas, até que a enchente de 2010 levou tudo.
Nos fundos da Fábrica de doces, a gente da rua também aproveitava para tirar o
barro, para fazer panelas, quando a lagoa, braço do Rio Mundaú, estava seca.
Na Rua da Ponte também existia nessa época uma
fábrica rústica de colchão de capim, do Sr. Francisco, um armazém de compras e
vendas de cereais, de João Jonas (nosso pai, que também possuía bodega, como
ele chamava); um hotel do sr. José Otacílio (Zeca), que hospedava os motoristas
que chegavam à cidade para abastecer o
pequeno comércio local, quando a entrada principal de União dos Palmares
acontecia naquela região e os viajantes transitavam pela ponte rústica de
madeira, desativada pelas enchentes, no povoado Cabeça de Porco.
Na Rua da Ponte, além disso, havia mulheres
idosas que benziam a pessoa ou algum animal doméstico, de algum mal. O bar do
sr. Antônio Timóteo e o bar do Lourão; o alambique do sr. Orlando Baía, que
fabricava vinagre, Cajuvita e cachaça; a oficina mecânica de Abdon Copertino,
uma oficina que fabricava portão de ferro, a oficina de Roberto Carlos, que também era ponto de
parada de ônibus para Garanhuns, local de espera para Mundaú Mirim, até então
distrito de Uniao dos Palmares, como
era denominada a hoje cidade Santana do Mundaú.
Todo esse aparato movimentava a economia
local. A Rua da Ponte sempre foi uma das mais importantes e queridas ruas da
região, pela sua importância para o desenvolvimento do município, pois o
movimento de ônibus e carros que abasteciam o mercado interno era sempre por
ali.
Os moradores dos sítios e dos povoados, depois
que vendiam os seus produtos na feira livre, aos sábados, iam fazer as compras
semanais e de mês nas mercearias do lado de baixo da cidade, na Rua da Ponte ou
na Orlando Bulgarin. Alguns adolescentes de União tiveram seus primeiros
empregos despachando e ajudando nas mercearias de União dos Palmares.
Maria Rosa também fazia as compras do mês em
uma mercearia, no começo da Rua da Ponte; comprava fiado e pagava quando
recebia das clientes. Era assim que funcionava esse tipo de comércio: a maioria
na confiança de quem vendia, que anotava tudo em um caderno ou caderneta.