Olívia de Cássia Cerqueira
(Republicado do Blog, com algumas modificações)
Sexta-feira, 29 de abril, é
Dia da Paixão de Cristo. Para a nossa família, quando éramos crianças, essa era
uma data muito triste, mas em compensação tínhamos como recompensa a toda
aquela tristeza, as comidas que a minha mãe fazia nessa época do ano.
Meus pais e meus avós jejuavam na Semana Santa e de
quarta-feira a sexta não comiam carne e voltavam a comer no sábado.
Era tradição e ainda hoje muitas pessoas
católicas ainda seguem esse ritual. Pra falar a verdade, depois que vim
morar em Maceió, não sigo esses costumes.
Nessa época, da quarta até a sexta-feira, os
nossos almoços lá em casa eram regados a muita comida no coco, peixe, bacalhau,
sururu e outras delícias; de sobremesa e para o café mamãe fazia bolos
diversos, pés-de-moleque., cocada e tanta coisa gostosa que a gente se fartava.
Os rituais da Igreja eram sempre seguidos pela
minha família e na Sexta-feira da Paixão nós acompanhávamos nossos pais na
procissão do Senhor Morto, numa tristeza contrita e profunda, depois íamos à
igreja beijar o Cristo.
Quando morávamos na Rua da Ponte, seu Antônio
Timóteo passava a manhã inteira reproduzindo na vitrola antiga, em disco de
vinil, a via crucis da Paixão de Cristo, em volume bem alto e quase toda a rua
escutava.
Era a história triste do filho de Deus que veio ao
mundo para salvar a humanidade. E, na minha ingenuidade de menina, já me
revoltava com a maldade do mundo. Me perguntava como era que aquelas pessoas
tinham feito o Cristo sofrer tanto e ele tinha sido tão bom e tão fraterno.
Aquela história era tão triste que sempre me
levava às lágrimas e quando fiquei mocinha e fomos morar na Tavares Bastos ia
ver a Paixão de Cristo no cinema de seu Armando, mas era filme mudo em
preto-e-branco e as cenas eram apenas fotografias estáticas, com legendas.
Também lembro que tinha o filme ‘Marcelino Pão e
Vinho’; que eu me lembre foi o único que o meu pai foi e levou toda a família,
eu era muito criança, mas lembro que a história era um enredo religioso.
Na Sexta-feira Santa, era dia de ir pedir a bênção
aos nossos padrinhos de batismo; no meu caso, padrinho Durval Vieira e madrinha
Nenzinha. Ele ia me buscar todo fim de semana para andar de jipe e eu ficava
feliz com aquela atitude do meu querido padrinho. Nessa época do ano o ritual
se repetia.
Meu padrinho mandava represar o açude da sua
fazenda Sete Léguas e eu e Luciana (sobrinha de madrinha Nenzinha) nos metíamos
naquela água, para observar de perto a pescaria. Era uma festa para mim tudo
aquilo, além das muitas frutas que comíamos no sítio.
Segundo a crença da época, não era dia de bater
nem de maltratar ninguém, como se bater fosse a punição indicada em dias comuns,
nem gente nem animal (e era e em alguns casos, ainda hoje é assim) em respeito
ao Cristo morto e crucificado.
Essa regra lá em casa só foi quebrada quando
fiquei adolescente e adulta, quando eu já estava de namoro com meu
ex-companheiro e minha mãe foi até a Avenida Monsenhor Clóvis à minha procura,
com a finalidade de me pegar no flagra e me bater, inconformada com aquele
relacionamento. E apanhei muito nesse dia quando cheguei em casa.
Feliz Páscoa para todos e que
o domingo seja um dia de reflexão e não só de comer chocolate. Bom dia.
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