quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Somos cobaias...

 

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Em uma de suas músicas o poeta Cazuza disse que: “somos todos cobaias de Deus”. Outros autores também já o disseram em seus escritos, e hoje me dei a refletir sobre o tema. Explicarei em seguida.

Voltei à fisioterapia presencial numa faculdade particular de Maceió, essa semana, e devo novamente esclarecer que sou grata e todos os dias agradeço a Deus pelos amigos que tenho, que conseguiram uma vaga para mim no local.

Dito isso, volto ao tema em tela, porque na volta de hoje nova turma foi me analisar e estudar o meu caso, e o professor explicou que sempre cita o meu caso em suas aulas de neurologia. Sou um estudo de caso, ou um caso de estudo, disse-lhe eu.

Mas eu não me importo com isso, pelo contrário: enquanto tiver mais profissionais e mais pessoas com informações sobre atrofia cerebelar, talvez tenhamos mais chances de chegarmos perto de uma evolução para esse problema.

Não é que eu acredite na cura, pelo menos nas próximas décadas, mas pode ser que as gerações futuras das famílias que herdarem a Ataxia ou outros problemas neurológicos, venham a ter mais chances, mais esperança que nós.

Não desdigo a má sorte, apesar de alguns dias serem mais complicados que outros. Cada dia aparece um novo sintoma diferente, ou mais complicado.

 E lembro daquele senhor, psiquiatra que me consultou e deu um diagnóstico de esclerose múltipla, por conta de um resultado de um encefalograma,  sem antes perguntar  o meu histórico familiar.

E eu, atrevida que sou, contei para ele sobre a Doença de Machado-Joseph, quando ele alertou que eu imaginasse que o meu cérebro era  um sistema estelar  em que morria uma célula a cada dia a cada dia ou instante.

Com leituras mais apuradas sobre Ataxia, antes com certa frequência, fui descobrindo que as doenças neurológicas têm sintomas de outras síndromes e são parecidas e só um mapeamento genético ou ressonância magnética, em alguns casos, podem dar o diagnóstico.

Nos últimos tempos, parei de ler sobre isso e atualmente procuro aproveitar o que posso, sem ressentimentos ou mágoas, tentando não depender tanto de terceiros, enquanto posso e tentando não pensar num amanhã de “grandes novidades”. Somos todos cobaias de Deus. Sou um estudo de caso, ou um caso de estudo. Bom dia.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

É sobre falar em não desistir...

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Tem dias que a gente amanhece com aquele sentimento de ter vontade de desistir da luta, que a cada dia fica mais difícil. E como diz Chico Buarque em sua música Roda Gigante, “tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu”.

Um mundo gigante, com todas as mazelas que assomam a humanidade. E dá um aperto no peito, sim. Dá vontade de dizer ao vento que vamos deixar como está.

E diante de tais sentimentos menos honrosos, procuramos uma forma de encantamento que nos faça retomar a força, a garra, o ímpeto de continuar perseverando por dias melhores.

Somos as consequências das nossas escolhas e essas escolhas nos levarão aos lugares, desejados, ou não. Imunidade não é impunidade e me surpreendo com “pessoas de bem” defendendo o troglodita “deputado” por conta do ódio que têm ao PT e a nós que simpatizamos, ou os que  defem uma linha mais à esquerda. E sobra até para o padre Júlio e o Papa Francisco.

Até onde a humanidade chegará com seu ódio, seus atrasos de pensamentos, sua ignorância intelectual, defendendo o que tem mais torpe, mais ruim para os menos favorecidos.

Não é sobre falar de um partido ou de uma pessoa, é sobre falar da falta de políticas públicas, principalmente para a saúde, que está no meio de um furacão.

Esses arreganhos de ódio não condizem com o que defendo. Eu quero um mundo justo, o mundo que sempre defendi de paz, respeito de harmonia entre os que pensam diferente da ignorância.

Quando nasci, em 1960, já se vai longe o tempo, as informações não chegavam ao povo de forma tão rápida. Agora, além da rapidez da informatização, como disse André Carvalhal, na Carta Capital, “Junto com o coronavírus, uma onda gigante de memes, fake news, teorias da conspiração, medo, pânico” e outras artimanhas são jogados todos os dias  por aí.

“A sociedade está doente, ao ponto de precisar de seguidas catástrofes para despertar. Quantos mais precisarão morrer?”, diz o texto da Carta Capital.

Me aborreço com a falta de argumentos e repetição dos mesmos chavões contra o PT e Lula, nas redes sociais. Faz tempo que o PT não é mais governo, Lula passou cerca de 500 dias preso, por conta da armação de um juiz passional e de armações da Lava Jato, que apoiou eleição de Bolsonaro e integrou governo.

E a falta de controle, de governabilidade, leva à falta de medicamentos para câncer, sífilis e covid-19 e também escancara ainda mais a crise na saúde pública, mas isso só não basta para a alienação geral.

Gasolina, gás e diesel subindo todo dia, também não vem ao caso para essa gente bronzeada, mas se fosse um governo de esquerda que tivesse no poder, panelas bateriam todo dia, caminhoneiros e outras hordas estariam por aí,  a falar palavrões e divulgar vídeos vergonhosos nas redes sociais.  

Preciso de motivos para não desistir, antes que meu tempo acabe. É sobre falar em não desistir... E tenho dito. Bom dia, ainda.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

E lá se foi o tempo...

 

Olívia de Cássia Correia de Cerqueira

 

E hoje amanheci lembrando um pouco da infância distante, das brincadeiras de criança na Rua da Ponte, que me viu nascer. Brincávamos todos juntos, meninos e meninas, muito mais com as meninas, os banhos no Rio Mundaú, poluído agora pelo despejo de esgotos, de tiborna e lixo ao longo de décadas.

As casas eram pintadas, pelo menos algumas, de verde e amarelo: assim eram a bodega e o Armazém do meu pai, a casa dos meus avós e os prédios da Estação Ferroviária. Não sei se a situação tinha a ver com a conjuntura do país: vivíamos o início dos anos de chumbo.

Às vezes a gente precisa da distância do tempo, para valorizar muito mais o que fomos e somos, o que tivemos e temos, não só no lado material da situação, segundo a lenda.  Diz o dito popular que: “distância é aquilo que nos faz dar valor ao que um dia estivemos ao nosso lado”.

Não sou dona da  verdade, mas o momento atual nos diz tudo: só não entende que não quer, quem tem cegueira intelectual ou que se finge de morto. Chegamos num tempo de Carnaval sem carnaval. De festas sem aglomerações, sem animações.

A realidade do mundo não é das melhores e daqui há alguns anos ela vai ser lembrada como os piores anos depois da ditadura. Sem carnaval, sem aglomeração, por conta da pandemia e como um dos piores governos na presidência: ficamos mais tristes.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Estou travada

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Sinto-me travada para escrever, depois da acomodação da aposentadoria e muito mais com essa pandemia que assola o mundo.  De repente, como aquela planta que se fecha quando tocada, me vejo assim, sem coragem para enfrentar a página em branco do caderno ou no computador e contar ao vento o que estou sentindo ou pensando, a não ser postagens e opiniões pessoais nas redes sociais.

São muitos temas que me causam indignação ou insatisfação na atual conjuntura (o Brasil é rico em situações assim na área política e social), que de repente, a vontade de colocar para fora algum sentimento, me veio à tona há alguns dias.

Preciso falar de um desgoverno fascista, incompetente à violência que se espalha no mundo, também incentivada por esse retrocesso cultural, social e econômico, não só no País.

É como se os fatos negativos da política tivessem me paralisado, diante de tantos fatos atípicos, para não falar em negatividade, não gosto dessa palavra.

Tento ser otimista, apesar de tudo. Mesmo que tenha o pé atrás, como disse o presidente Lula: “não vejo saída quem não seja por meio da política”, feliz ou infelizmente.

Apesar de acompanhar um pouco as pautas, tem horas que me ponho abusada, diante de tanta negociata, falação e hipocrisia. A política que se pratica é diferente daquela ciência bonita.

Revolto-me.  Revejo algumas reflexões, em época de isolamento social, volto-me para as leituras, palavras cruzadas, filmes na Netflix, procuro preencher meu tempo, para não decair de vez. Não posso permitir que a Ataxia me vença, embora tenha dias que quase não consigo levantar para fazer minhas tarefas diárias.

Me inquieto com ações dos que estão no poder, de sempre transferir suas faltas e ausências, para não falar na sua incompetência de governar, colocando a culpa nos outros da oposição.

A luta é infinda, não para por aqui. Me vejo sem paciência de ver essa monotonia das pessoas aceitando tudo o que vem lá de cima, de goela abaixo, sem ir para as ruas, como fazíamos antigamente, há algumas décadas. Hoje já não posso mais, por motivos de saúde, mas espero uma reação imediata de quem pode.

Da varanda de casa vejo o céu azul, depois de um banho refrescante, para diminuir o calor que faz em Maceió. Coloco um AP de música no celular e enquanto vou rabiscando, ainda no caderno, ouço Alanis Morisste. Lá adiante o trem apita, chegando do curto trajeto, agora por conta do desastre ocorrido em bairros de Maceió.

Dia de faxina da diarista e fico feito barata tonta dentro de casa, procurando o melhor lugar para ficar, para ler e manter minha privacidade. Mas sei também que logo vou precisar de alguém em casa, diariamente, uma cuidadora, e isso me assusta um pouco, mas enquanto essa situação não chegar, continuarei persistindo.  Bom dia.

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...