terça-feira, 23 de julho de 2024

Não era para ser assim

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Não era para ser assim, não foi dessa forma que aquela adolescente que fui desejou. Queria mudar o mundo, como muitos adolescentes sonhadores daquele tempo.

Eu queria ter sido uma excelente profissional, uma pessoa melhor e uma escritora de bons textos: simples assim. Mas as limitações foram chegando no corpo e na mente. Fui ficando mais atrapalhada, descoordenada.

Tem dias que não consigo escrever uma linha sequer, nem manualmente, como fazia antigamente, antes de passar para o computador e achava que as palavras fluíram com mais facilidade. Isso me deixa em uma desarmonia comigo.

E chegaram as limitações: digito “catando milho”, coisa que antigamente fazia com as duas mãos e com rapidez: fui digitadora em uma gráfica, além de jornalista.

Andava com um caderno e uma caneta. Achava que o que colocava ali era poesia. O tempo passou, fui para a faculdade e percebi que tudo era diferente. Aprendi que o mundo era diferente e que nada seria da maneira que pensei.

A aposentadoria chegou: não da forma que eu queria. Para fazer viagens, conhecer o mundo, escrever por prazer. Literatura requer tempo e paciência para se pensar, solidão e boas leituras. Mas o que escrevo não é isso. Bem sei.

Tem gente que não entende minhas angústias e minha forma de refletir sobre o mundo e suas especificidades. Da vontade de responder à  altura, mas não  vale a pena. ‘’Questões que já passaram pela minha mente, prestes a embarcar em uma jornada de reflexões profundas e intrigantes sobre a angústia existencial.  Então continuo lendo e procurando descobrir respostas que talvez nem saiba o que procuro.  Bom dia.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Diário de bordo


Olivia de Cássia Cerqueira

 

Bom dia, amigos.  Começo o dia, dizendo que ando com preguiça de escrever. Já não tenho a mesma agilidade de antes, para digitar e discorrer sobre os assuntos em pauta nas mídias sociais e o telefone celular nos vicia. E ocupa parte do nosso tempo.

Além do exposto acima, resolvi reler alguns livros que tenho. Os novos lançamentos estão com preços exorbitantes e por aqui  não tem com quem trocar leituras.

Estou relendo a biografia de Getúlio Vargas. Não é uma leitura para se devorar em poucos dias. Apesar de já ter folheado em outro momento, é uma leitura para se ler pausadamente. São três volumes robustos e estou chegando na metade do primeiro.

Lira Neto e outros autores pesquisaram sobre ele. Particularmente tenho algumas críticas a fazer, ao político e ao homem Getúlio, mas sem sombra de dúvida, ele trouxe alguns avanços à sua época, à sociedade brasileira.

O projeto desenvolvimentista do governo de Vargas, “sobretudo no seu segundo mandato, a partir de 1951, levou em consideração a necessidade de impulsionar a economia nacional pela via da industrialização”, afirma Marcelo Marcelino, membro da Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional  e sociólogo.

Ainda segundo ele, que acumula ainda ser: economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba, “essa industrialização tardia, de maneira concreta, passa a ser desenhada na década de 1930 com o mesmo Vargas”.

Para o autor, “a crise política nacional da década de 1920 e a turbulência econômica mundial culminou na falência da denominada política “Café com Leite” e da quebra das ações nas bolsas de Nova Iorque e Londres, respectivamente”, respectivamente”, pontua.

Mas eu vou ficando por aqui sobre Vargas, pois há milhares de autores, a exemplo de Lira Neto e Marcelo Marcelino que estudam e estudaram sobre o homem e o político e não tenho conhecimento acadêmico para explorar o assunto.

Como falei no início, além das minhas leituras para colocar em pauta, tenho outras ferramentas para ocupar meu tempo, para que ele não fique no ócio e pense muita besteira. Fiquem com Deus.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Dor de cotovelo

 


Olivia de Cassia Cerqueira

Literalmente passei uma semana com “dor de cotovelo”, caí e machuquei o danado dessa parte do corpo, do lado esquerdo. Felizmente foi leve a avaria e já sarou.

Caí da cadeira de rodas, levantei e caí de novo, machucando o lado direito, acima da perna direita, resultando em hematoma apenas. Costumo sentar ali para assistir.

Bato sempre com a cabeça no chão, perdi um “pouquinho” da audição esquerda, devido às quedas, mas nada grave. Digo sempre que os parafusos estão todos soltos e agradeço todos os dias não me machucar seriamente.

E parafraseando aquela música, um cotovelo ralado, dói “bem menos que um coração partido”.

O relógio do quarto de cima, que não durmo mais lá, parou às quinze para as três, o da cozinha também parou às seis e meia, ficando na parede sem serventia, mas aqui a realidade é bem outra.

O tempo não estaciona, me alertando todos os dias para o que poderá acontecer. Faço exercícios quase sempre, com receio de atrofiar de vez. Fisioterapia, fonoterapia, psicóloga, neurologista.

Além disso, leio muito, faço Palavras Cruzadas, vejo séries e novelas, procuro preencher meu tempo e não me sinto só. Já não escrevo com firmeza, a digitação está ficando lenta e cheia de problema. A Ataxia não perdoa, mas vou lutado.

 Meus pets são meus filhos de quatro patas e quando dá vou ao shopping, mas para qualquer canto só posso ir acompanhada. Sigo em frente lutando e pedindo proteção aos anjos de luz para não depender dos outros para as pequenas tarefas diárias. Fé e saúde para todos. Bom dia.

terça-feira, 26 de março de 2024

Semana Santa



Olívia de Cássia Cerqueira

(Republicado do  Blog,  com algumas modificações)

 

Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. Para a nossa família, quando éramos crianças, essa era uma data muito triste, mas em compensação tínhamos como recompensa a toda aquela tristeza, as comidas que a minha mãe fazia nessa época do ano.


Meus pais e meus avós jejuavam na Semana Santa e de quarta-feira a sexta não comiam carne e voltavam a comer no sábado.

 Era tradição e ainda hoje muitas pessoas católicas ainda seguem esse ritual. Pra falar a verdade, depois que vim morar em Maceió, não sigo esses costumes.


Nessa época, da quarta até a sexta-feira, os nossos almoços lá em casa eram regados a muita comida no coco, peixe, bacalhau, sururu e outras delícias; de sobremesa e para o café mamãe fazia bolos diversos, pés-de-moleque., cocada e tanta coisa gostosa que a gente se fartava.

Os rituais da Igreja eram sempre seguidos pela minha família e na Sexta-feira da Paixão nós acompanhávamos nossos pais na procissão do Senhor Morto, numa tristeza contrita e profunda, depois íamos à igreja beijar o Cristo.

Quando morávamos na Rua da Ponte, seu Antônio Timóteo passava a manhã inteira reproduzindo na vitrola antiga, em disco de vinil, a via crucis da Paixão de Cristo, em volume bem alto e quase toda a rua escutava.

Era a história triste do filho de Deus que veio ao mundo para salvar a humanidade. E, na minha ingenuidade de menina, já me revoltava com a maldade do mundo. Me perguntava como era que aquelas pessoas tinham feito o Cristo sofrer tanto e ele tinha sido tão bom e tão fraterno.

Aquela história era tão triste que sempre me levava às lágrimas e quando fiquei mocinha e fomos morar na Tavares Bastos ia ver a Paixão de Cristo no cinema de seu Armando, mas era filme mudo em preto-e-branco e as cenas eram apenas fotografias estáticas, com legendas.

Também lembro que tinha o filme ‘Marcelino Pão e Vinho’; que eu me lembre foi o único que o meu pai foi e levou toda a família, eu era muito criança, mas lembro que a história era um enredo religioso.

Na Sexta-feira Santa, era dia de ir pedir a bênção aos nossos padrinhos de batismo; no meu caso, padrinho Durval Vieira e madrinha Nenzinha. Ele ia me buscar todo fim de semana para andar de jipe e eu ficava feliz com aquela atitude do meu querido padrinho. Nessa época do ano o ritual se repetia.

Meu padrinho mandava represar o açude da sua fazenda Sete Léguas e eu e Luciana (sobrinha de madrinha Nenzinha) nos metíamos naquela água, para observar de perto a pescaria. Era uma festa para mim tudo aquilo, além das muitas frutas que comíamos no sítio.

Segundo a crença da época, não era dia de bater nem de maltratar ninguém, como se bater fosse a punição indicada em dias comuns, nem gente nem animal (e era e em alguns casos, ainda hoje é assim) em respeito ao Cristo morto e crucificado.

Essa regra lá em casa só foi quebrada quando fiquei adolescente e adulta, quando eu já estava de namoro com meu ex-companheiro e minha mãe foi até a Avenida Monsenhor Clóvis à minha procura, com a finalidade de me pegar no flagra e me bater, inconformada com aquele relacionamento. E apanhei muito nesse dia quando cheguei em casa.

Feliz Páscoa para todos e que o domingo seja um dia de reflexão e não só de comer chocolate. Bom dia.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Gratidão


Olívia de Cássia Cerqueira

 

Acertei o ponto do café: nem muito quente, nem frio. Bastaram duas colheres de pó, para meia garrafa de água. Ficou delicioso, amo café, embora tenha diminuído bastante, depois da aposentadoria.

Penso que nem sempre acerto o ponto. É como a nossa vida, nem sempre chegamos ao ideal. Mas até que ponto somos controlados por nosso inconsciente?

Li em algum lugar, que “às vezes, quando me pergunto por que fiz determinada escolha, percebo que, na verdade, eu não sei”. Nos alegramos por termos feito o certo, o que era para fazer.

 “Quando começamos a analisar a base de nossas escolhas de vida, sejam elas importantes ou bastante triviais, podemos chegar à conclusão de que não fazemos muita ideia”, escreve Magda Osman da BBC Future (The Conversation)*

Do contrário, nos arrependemos e ficamos martelando aquilo e nos perturbamos com isso. Não vale a pena quando isso acontece, porque só traz aborrecimentos.

E quando temos uma situação que não podemos intervir de vez,: apenas com paliativos? Mesmo assim o faço. Uso o que é oferecido aqui no Brasil, como paliativo.

Faço fisioterapia, fonoaudiologia, vou a neurologista, psicóloga, quando é possível e alguns poucos exercícios físicos que ainda são possíveis para evitar tentar retardar a evolução que me colocará em uma cadeira de rodas até que paralise todo meu corpo e eu venha a óbito.

Espero não chegar ate esse final degradante. Tomo alguns remédios para os sintomas de outros males, como ansiedade, muitas cãibras, dores e outros.

Tem horas que me interrogo se vale a pena tudo isso, mas procuro ser um pouco otimista e levar o resto dos meus dias com humor e rindo das minha própria sorte, quando levo quedas. Chamo um monte de palavrão e depois peço perdão a Deus e agradeço pelo livramento de não ter quebrado nem um osso até agora. Bom dia.

terça-feira, 19 de março de 2024

Mesmo assim

 


Olivia de Cássia Cerqueira

 

Do alto da varanda da minha casa, observo as construções lá na frente. Não fossem elas, dava pra ver o mar. Mesmo assim, quando anoitece e tudo silencia, ouço o barulho das ondas, quando a maré está cheia, além de escutar o apito dos navios chegando.

Acordo antes que o sol apareça e arrisco, depois do café, fazer pequenos exercícios, com receio de atrofiar de vez. Além da fisioterapia, nos dias intercalados.

Passo os dias, além disso, fazendo palavras cruzadas e lendo. Não posso deixar de ler.  Lamento não ter tempo mais de ler todos os livros que eu gostaria.

Os fragmentos que compõem a minha rotina, dão a medida do que procuro ser: uma pessoa melhor.  Peço a Deus, aos anjos e santos de luz, que me iluminem e me protejam de um mal maior.

Tento não me impressionar com o que pode ser mais complicado. Tudo isso representa a minha inquietude diante de mim. Penso nos antepassados que já se foram comprometidos por esse mal. Herança, que sem terem culpa, nos deixaram.

Os sentimentos, as dúvidas e incertezas me veem e nessas horas, tomo remédios e procuro não pensar no pior. O dia já começa abafado, faz muito calor. Já não digito um texto com a agilidade de antes, mas preciso colocar pra fora os sentimentos que me acometem. Parece que vai chover.

Seguirei em frente, mesmo que seja com a rotina diária. Preciso voltar a perder peso. Não posso carregar um corpo pesado, porque as forças diminuem.

Depois de uma certa idade, temos que os vigiar muito mais do que antes. Costumo fazer um balanço do que vivi e do que vivo agora. Preciso viver de acordo, com a idade e as limitações. Viva São José, padroeiro dos agricultores. Bom dia.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Vai melhorar


Olívia de Cássia Cerqueira

 

Todos os dias, procuro repetir esse mantra. “Vai melhorar, tem que ter fé”. Sei que pode ser clichê para muita gente, mas na minha condição, sabendo que meu problema é genético e não tem cura, tenho que procurar alguma coisa que me faça sonhar.

Hoje acordei com as energias em baixa. Fui na fisioterapia, mostrei que não estava muito ativa, mas fiz os exercícios que tinha que fazer. Faz parte do pacote da Ataxia.

“A Ataxia descreve a coordenação anormal de movimentos, sendo caracterizada por deficiência na velocidade, amplitude de deslocamento, precisão direcional, e força de movimento.”

 É uma doença que na minha família nos acomete ao longo de muitos anos: homens, mulheres e até criança. Nós não entendíamos isso e era chamada “a doença da família”.

Os estudos sobre são muitos recentes: “ é uma doença degenerativa do sistema nervoso, também chamada de Ataxia espinocerebelar tipo 3, popularmente conhecida por “doença do tropeção”, ou marcha de bêbado.

Os  estudiosos afirmam que os atáxicos: ”perdem os movimentos espontâneos do rosto e se tornam mais lentos e tremem", detalham. A progressão da Machado-Joseph leva o paciente para a cadeira de rodas, em 10 ou 15 anos.

Segundo pesquisa feita por Dr. Laura, no Rio Grande do Sul, onde a expectativa de vida é de 78 anos, passa para 65 anos”. Em pensar que já estou com 64.

Rogo todos os dias para não chegar nessa dependência total de terceiros e atrofia dos músculos e membros. Prefiro que o Altíssimo tenha piedade de mim. Mas continuo com minha fé: vai melhorar. 

Não era para ser assim

Olívia de Cássia Cerqueira   Não era para ser assim, não foi dessa forma que aquela adolescente que fui desejou. Queria mudar o mundo, c...