Olívia de Cássia Cerqueira
(29-09-2024)
Quando meus
pais morreram, vi meu mundo cair: papai três antes que ela. Mamãe dizia que se
ficasse viúva ia aproveitar a vida e viajar, o que não aconteceu.
Infelizmente
não teve muito tempo: virou estrelinha
com a mesma idade que tinha meu quando faleceu, aos 76 anos, que mais pareciam
80 ou mais.
Passou sua infância e adolescência na roça plantando lavoura e capinando mato e quando veio para a cidade, já casada e com meu irmão mais velho com oito meses, fazendo trabalhos domésticos que não acabava nunca.
Pedi perdão
a eles pelas mágoas que possa ter proporcionado. Nessa época ainda não morava sozinha,
se é que eu possa considerar aquilo uma vida a dois, pois aquele que eu considerava
companheiro de uma vida passava mais tempo em União dos Palmares do que comigo,
em Maceió, onde fiz faculdade e me formei e onde tive meus empregos.
Apesentei
ele a todos os amigos da faculdade e nenhum o discriminava pela sua condição
social ou pelos seus poucos conhecimentos. E eu enfrentei “moinhos de vento”
para ficar com ele.
Eu vivia
cheia de angústias com as histórias que mamãe contava, daquele que eu, ingenuamente,
achava que pudesse me acompanhar até ficarmos com os cabelos brancos e andarmos
de mãos dadas, como ele dizia.
Hoje,
passados mais de 30 anos e com a saúde comprometida, termino de organizar
meu quarto livro (crônicas), encerrando um ciclo em minha vida.
O livro está na gráfica para os ajustes finais, antes de ser impresso. É a realização de mais um sonho que se torna realidade, não importa o que digam ou pensem.
Não sei se o “leitores” entenderão o título que escolhi, ou o tema dos meus escritos, que versam, em sua maioria sobre relatos da minha vida e suas debilidades sendo eu portadora de Ataxia spinocerebelar, uma doença neurodegenerativa.
Nem sei se ainda tenho tempo para publicar outro livro. São tantas limitações diárias que aumentam a cada dia, que prevejo a minha “feiúra” daqui para frente. Fico longe de espelhos para não me assustar com o que estou vendo.
Não ter com
quem falar em casa sobre esse problema me dificulta um pouco, mas quem me
garante que se eu tiver algum ou alguma auxiliar vai me facilitar a vida? Muitas
vezes o que se arruma é mais confusão.
É isso que eu quero me fazer entender. Tem dias que acordo e penso que não vou dar conta do recado. Sinto algumas dores no corpo todo. E seja lá como for, só colocarei uma pessoa estranha para me auxiliar, quando eu não tiver mais movimentos, da mesma forma que minha mãe não queria, mesmo não tendo essa herança miserável, embora fosse prima-irmã do meu pai.
Hoje a entendo perfeitamente, infelizmente um pouco tardiamente, mas restaram grandes ensinamento dela e de papai. Bom domingo Para todos.
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