segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Sobre falar de preconceito


Olivia de Cássia C. de Cerqueira

 

Recorro a uma ferramenta antiga que costumava utilizar, sempre que me surgia um pensamento, para não perder o fio da meada, diante de um debate colocado, visto que estamos no mês de novembro  e o tema me acompanha faz tempo. O caderninho de anotações.

Sobre falar do preconceito racial no Brasil: ele sempre existiu de forma veIada  e  não adianta querer negar. Dizem que quem nega, alimenta o racismo. Não quero dizer que com isso que em algum momento, eu  não tenha sido preconceituosa ou tenha passado alguma  situação de preconceito.

Relembro agora de alguns momentos em que fui arrogante ou que tenha reproduzido, mesmo que involuntariamente, e  me envergonho disso.

Por outro lado, também lembro que quando criança, meus irmãos me chamavam de ‘Chita’, em alusão a macaca do filme do Tarzan, que eu via muito, ou  chamada de ‘Crioula’ por tios que moravam no Rio de Janeiro, já que naquele tempo eu tomava muito sol e tinha um bronzeado lindo. 

Eram expressões que, inocentes ou não,  mostravam e reproduziam  o racismo  e o preconceito dos meus antepassados, cultivados ao longo das gerações que sucederam os meus familiares.

"A negação do racismo expressa desinformação misturada à intenção de distorcer a realidade e a História, como os escravagistas e seus historiadores tentaram fazer", diz o colunista Moisés Mendes, do Jornalista pela Democracia.

Os exemplos de palavras e atitudes racistas explodem no Brasil e no mundo. Depois de séculos de sancionada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888, a lei que aboliu a escravidão após mais de três séculos de trabalho forçado no Brasil "saiu muito curta, muito pequena, muito conservadora", descreve a historiadora  Lilia Moritz Schwarcz em entrevista à BBC Brasil.

A historiadora diz que as consequências dessa virada de página abrupta, sem políticas para incluir os ex-escravos à sociedade, são sofridas até hoje..

Gilberto Maringoni, em “O destino dos negros após a Abolição, no site  do Ipea, Desafios do Desenvolvimento”, texto de 29/12/2011, disse também que, passado o 13 de maio de 1888, os negros foram abandonados à própria sorte, sem a realização de reformas que os integrassem socialmente.

“Por trás disso havia um projeto de modernização conservadora,  que não tocou no regime do latifúndio e exacerbou o racismo como forma de discriminação”, observa Maringoni.

Em discurso pelo Dia Nacional da Consciência Negra, o ex-presidente Lula ressalta as marcas que a escravidão deixou no sistema brasileiro e reafirma a necessidade da luta antirracista para a construção de uma verdadeira democracia.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Dias estranhos

Olívia de Cássia C. de Cerqueira

Estamos vivendo dias atípicos. No próximo dia 20 comemora-se o Dia da  Consciência Negra, mas no tempo de agora, o 20 de novembro de 2020, não temos muito ou nada para  comemorar, a não ser refletir  e refletir muito mais.

Que lições podemos absorver, em tempos de uma pandemia mundial, sem comemorações no dia 20 de novembro, data em que se homenageia o herói da liberdade Zumbi? Esse ano foi um período de novos desafios, novos hábitos que vão nos posicionar no futuro.

Além do embuste que o desgoverno atual colocou na Fundação Palmares, negando tudo o que os movimentos sociais sempre defenderam a pandemia que já matou centenas de pessoas e ameaça o mundo.

Desde o princípio das comemorações de reconhecimento e tombamento da Serra da Barriga, acompanho tudo de perto. Bem antes do Parque Memorial Quilombo dos Palmares ser construído eu já me envolvia nas comemorações.

Sérgio Camargo é jornalista Nega suas origens afro e chama movimento negro de "escória maldita". É um verme, atacou Zumbi, referindo-se a ele como um "filho da puta que escravizava pretos". Referiu-se a uma mãe de santo como "macumbeira", desdenhou do Dia da Consciência Negra e prometeu demitir diretores que não tiverem como "meta" a demissão de "esquerdistas".

Que retrocesso social foi esse? Mas vindo de um nojento que aceitou a subserviência  a um governo fascista, não se espera muito. É preciso que haja uma reação mais efetiva dos movimentos sociais.

Não adianta a gente negar a política, pelo menos a ciência e não a politicagem costumeira no Brasil. Domingo passado foi dia de eleições, um pleito diferente, mas que poderá nos trazer aprendizados.

Na eleição de 2018 os brasileiros fizeram uma escolha estranha: optaram pela volta ao retrocesso e à barbárie.  Nas eleições municipais de agora elegeram alguns candidatos igualmente estranhos.

A boa novidade é o Psol ter indo para o segundo turno em São Paulo, com Boulos e Erundina,  em Recife a neta de Miguel Arraes, Marília, do PT, também foi para o segundo turno. Nas câmaras de vereadores, com algumas exceções foram eleitos  personalidades, digamos, estranhas a alguns desafios.

Mas esses desafios estão colocados para que os grupos políticos partidários progressistas se também se renovem e se reciclem e saiam da mesmice, voltando a suas bases, em algumas situações só lembradas em época eleitoral.

Mesmo com todas essas dificuldades que estão colocadas na atual conjuntura, não devemos desistir de lutar por aquilo que acreditamos e lutamos. A luta continua. Viva Zumbi, viva Dandara e todos que lutam contra o preconceito e por dias melhores

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...