segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Coletânia de textos


Olívia de Cássia C. de Cerqueira

Por oportuno, posso dizer que meu próximo livro, Cheiro de memória é uma compilação das crônicas e textos publicados em meu blog pessoal, que já teve mais de 300 mil acessos ao longo de sua criação e comemorativo aos seus nove anos, em 2019, na atual plataforma.

Posso concordar que em alguns capítulos há uma semelhanças com Mosaicos do tempo, meu primeiro livro impresso em gráfica, lançado em 3 em agosto de 2018, no Museu da Imagem e do Som (Misa), em Maceió e em 23 de agosto do mesmo ano, em União dos Palmares, por meio de um financiamento coletivo de campanha, feito pelos amigos Odilon Rios e Ana Cláudia Lurindo.

Percebo que nos meus escritos tenho uma verve mais memorialista, não fossem alguns relatos do cotidiano ou avaliações conjunturais que publiquei na internet, ou na coluna. Agora aposentada, tenho meu blog como espaço para os desabafos, opinativos e também as redes sociais, agora publicados em forma de livro.

Não pense o leitor que eu tenha alguma pretensão maior com minhas publicações; estes textos podem ser definidos como um diário de bordo de uma quase sexagenária, dando asas à sua imaginação. Posso dizer que minhas memórias afetivas ficaram lá atrás, nas brincadeiras da infância, na saudosa Rua da Ponte, no pé da Serra da Barriga, ou nas aventuras da juventude, na terra natal, a Terra da Liberdade. Minhas raízes são de lá.

Nasci na Rua da Ponte, de onde veio esse jeito meio atabalhoado, estranho para algumas pessoas, mas sempre com força de lutar pela vida. A força de Zumbi e de Dandara está no nosso sangue. União dos Palmares é terra que tem histórias para se contar, personagens interessantes e intensos.

De dona Irineia Nunes a nosso poeta maior, Jorge de Lima, que é estudado e conhecido lá fora, mas no município, poucos são os que falam nele, da mesma forma que Povina Cavalcanti que dá nome ao terminal rodoviário da cidade. A professora e educadora Olympia, a professora Salomé Barros, entre outros personagens mais populares que permearam a imaginação e as ruas do município e que fizeram a história do local e mereciam destaque. Arrisco-me a dizer que a cultura palmarina está na UTI e urge que seja resgatada.

domingo, 29 de setembro de 2019

Entrevista de Lula o CGM

https://youtu.be/MsiSfnNSx5U

https://www.youtube.com/watch?v=MsiSfnNSx5U&feature=share&fbclid=IwAR0bkxMXgI7Pg4_0aFgoE558wT2WcgDczUGi-L4KiF_5QKiODa8FdrzVvy8



quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Cheiro de memória

Olívia de Cássia Cerqueira

Eu não era uma pessoa feliz. Sempre busquei a igualdade e uma sociedade mais justa e mais fraterna; mas aquilo que eu vivi naquele tempo foi uma farsa; não conseguia enxergar o mau caratismo de quem se aproximou de mim apenas para tirar vantagem, pensando encontrar uma mulher de posses, a quem pudesse explorar e se gabar para seus amigos, como os mais velhos diziam antigamente.

Eu não conseguia enxergar a realidade, depois de uma separação e colocava a culpa daquilo que estava vivendo nos outros. Não admitia que aquela culpa fosse minha, por não enxergar o óbvio. Se alguém teve alguma culpa de todo sofrimento que passei, esse alguém fui eu.
Hoje avalio assim a minha história, já reportada em Mosaicos do Tempo, e tenho vergonha de pensar nas humilhações passadas, em ter sido submissa (apesar das minhas teorias feministas) tentando viver uma história que não era verdadeira.

Vivi um período de anulação pessoal, paralisei no tempo. Sabia que já tinha sintomas de Ataxia spinocerebelar, mas a depressão acelerou o processo, tenho certeza hoje, os meus sintomas se acentuaram.

Apesar de uma infinidade de limitações, posso dizer hoje que, depois de ter me libertado de um sentimento doentio e apenas de uma via, que sou feliz. Estou tentando viver suavemente, sem aquele peso e angústia que sentia. Tentando não errar tanto.
Quando a gente é jovem, muitas vezes não mede as consequência dos seus atos. Pensa que pode tudo; um tudo que nem sempre é o que se deve fazer. O mundo mudou. Mudamos todos nós, ainda bem.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Bem-vinda, fisioterapia


Por Olívia de Cássia Cerqueira

Quando fui diagnosticada com Ataxia, em 2016, Doença de Machado Joseph, SCA3, eu já fazia fisioterapia há dois anos, porque eu já sabia do meu problema, que é hereditário, e minha sobrinha trabalhava na clínica. Quando entrei de benefício, consegui uma vaga no Cesmac, por meio de uma amiga, e lá estou há três anos. Sou muito grata.

No começo, a gente acha os exercícios fisioterápicos leves e não acredita que surtam efeito algum, pura ignorância nossa, mas com o tempo vamos sentindo alguma melhora, embora a DMJ não tenha cura e a fisio seja apenas um paliativo.

Meu irmão desistiu muito cedo de fazer exercícios, dizia que não adiantava, não tomava nenhuma vitamina ou remédio que fosse e quando eu dizia que ele precisava de um remedinho, calmante, ele dizia que a doida era eu.

Conviver com esse problema não é fácil, não. Tem horas que aparentamos estar muito bem mas, de repente, dá uma moleza, uma fadiga, que alguns podem avaliar como preguiça. A vontade que dá é ficar na cama o dia inteiro.

Mas eu sou muito teimosa e não me rendo: eu teimo, sou persistente e insisto, apesar dos vários sintomas de outras doenças que vão surgindo. Eu já afirmei em outros momentos, que só quem está passando por isso sabe o que digo.

Ataxia é uma doença rara e hereditária, de fundo neurológico, causada por genes defeituosos que são transmitidos, pelo pai ou mãe portador da doença, 50% de chance de transmitir para seus descendentes, de geração à geração. Minha família, direta ou indiretamente que o diga, pois os casos foram se multiplicando ao longo dos séculos, vindo de Portugal, segundo os cientistas.

Os primeiros sintomas da Ataxia são dificuldades com equilíbrio e coordenação, depois com a fala e deglutição, e, finalmente, problemas respiratórios, já são do conhecimento de algumas pessoas. Já fui aconselhada a procurar um fonoaudiólogo, pois minha fala começa a ficar atrapalhada, nas ainda não o fiz, talvez por preguiça mesmo.

Os portadores desse problema vão sentindo suas limitações aos poucos, e vão precisar da ajuda de outras pessoas conforme a doença vai se agravando. Enquanto o cérebro trabalha na velocidade normal, o corpo responde em câmara lenta e isso revolta muita gente acometida do problema.
Ninguém conhece ainda a causa básica da doença, mas no caso da minha é por meio dos casamentos entre primos e parentes. Sabemos que vamos precisar de apoio e solidariedade, sem pieguice, de todos.

Tenho encontrado muita gente solidária e muitos amigos que têm me ajudado a seguir na minha luta, para que eu não desande de vez. Estou procurando viver o que me resta de maneira leve, embora muitos portadores da doença se tornem revoltados e chegam a cometer suicídio, graças a Deus minha vontade de viver e viajar, aproveitar o que me resta, me impedem desse tipo de pensamento negativo.

Nasci e me criei na cidade de União dos Palmares ouvindo histórias de uma doença que afetava a família e da qual ninguém sabia o nome e só se referia à tal como a doença da família ou a maldição dela. Cresci tendo informações de tios e primos e depois meu pai que foram acometidos pela Ataxia; comecei a perceber que eu tinha alguns jeitos e sintomas dos portadores da doença.

No caso do meu pai, seus irmãos de pai e mãe tiveram a doença e já conheci alguns andando de bengala ou inválidos. Meu pai viveu por 14 anos inválido também. Bem no começo dessa história fui dando como certa a possibilidade de alguma pessoa lá de casa vir a ter a Ataxia.

Nesse ínterim, meu irmão do meio, Petrônio José, já falecido, foi apresentando acentuadamente os sintomas, até que deixou de trabalhar, se aposentou, se tornou cadeirante e veio a falecer, depois de uma convulsão provocada pelo engasgo agudo (um dos sintomas da ataxia) e depois do internamento por um mês e os sintomas se agravarem, virou uma estrelinha.

Embora seja apenas para retardar a paralisia de braços e pernas, a fisioterapia me faz um bem enorme e não vou parar de fazer, enquanto eu puder me mexer. Bem-vinda, fisioterapia.,

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...