terça-feira, 5 de dezembro de 2023

E eis que se aproxima o Natal

Olívia de Cássia Cerqueira

 

E eis que se aproxima o Natal. De novo. Nunca fui de me animar muito nessa época do ano. Talvez por cada lembrança de uma época: meus pais, meus avós, primos e parentes que marcaram minha vida. Ou por outras situações que sempre me deixaram deprimida e que eu não entendia o motivo.

E no Natal não tínhamos festa lá em casa (apenas uma vez para nos despedir de uma prima de 26 anos que estava com metástase de um CA violento).

Terminada a Missa do Galo na Praça Basiliano Sarmento, a Praça da Igreja, quando éramos crianças, já exaustos por estar em pé, íamos para casa dormir. Na adolescência, ficávamos torcendo quer a missa terminasse logo, para ir zoar, como se diz agora, com os amigos. 

Hoje acordei com lembranças do meu pai. Um matuto saído das terras da Baixa Seca, zona rural, entre Murici e União dos Palmares. Seu João Jonas, como era conhecido (por ser filho de Jonas, meu avô paterno) vendeu suas terras a preço miúdo.

Naquela época as terras da minha família foram vendidas a preço baixo.  E mesmo não querendo, mas por insistência de minha mãe, acabou cedendo, porque ela não queria criar seus filhos na roça e papai sempre cedia.

E apesar do machismo, próprio dos matutos lá do sítio, dona Antônia tina uma força imensa e mesmo com seus preconceitos raciais, hoje analiso uma força feminina nela. Era uma leoa na defesa de seus filhos. Era do jeito dela.

E agora que não adianta mais entender algumas falhas que ela tinha, e não foram poucas (tanto as minhas quanto as dela), situações que não foram resolvidas me incomodam até hoje, 21 anos depois de sua morte completados no dia 10 de dezembro.

Talvez, se houver outra dimensão (algumas vezes acredito que sim) a gente possa resolver isso. Mesmo que ela fosse cética quanto a existir outras vidas (morreu, acabou), dizia ela.

Mas as lembranças do meu pai me vêm à tona também,  e me interrogo: como um homem tão simples, conseguiu manter uma família de quatro filhos, 3 estudando em Maceió, no ensino médio, com uma mercearia e um armazém de compra e venda de cereais, sendo tão tripudiado e enganado? Bem, chega por hoje. Bom dia.

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Palavras da autora

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