Por Olívia de Cássia Cerqueira
Quando Sofia nasceu, não teve festa, nem muita alegria. O pai estava trabalhando; a mãe pariu sozinha e quando a parteira chegou ela já tinha vindo ao mundo. A mulher atravessou o rio e veio correndo; cuidou apenas dos procedimentos necessários a uma recém parida e seu bebê.
Sofia foi crescendo livre, rebelde, não pensava em casamento e queria viajar e
conquistar um futuro promissor. Vivia livre, no meio daquela comunidade carente
de políticas sociais e foi entendendo certas nuances da vida. Ela não se
contentava com o chamado destino que os mais velhos falavam. Avaliava que
poderia mudar tudo aquilo, se preciso fosse.
Internet e tecnologias nem sonhavam em existir no Brasil dos anos 60, 70,
quando Sofia nasceu e viveu sua adolescência. Ela gostava de poesia e
personalizou seu quarto com painéis de poesias, colagens tapeçarias e
almofadas, coisas que ela produzia na adolescência para deixar seu quarto de um
jeito adequado ao seu mundo. Era ali que ela gostava de passar horas a fio.
Já na adolescência vieram os primeiros problemas ‘sentimentais’. Sofia era do tipo romântica e se ‘apaixonava’ com facilidade por qualquer garoto, mesmo que nem se importassem com ela. Passou a ter baixa autoestima por isso. Se achava muito feia e desengonçada e foi esse complexo de inferioridade que a levou quase à depressão profunda, já àquela época.
Dona Mércia passou a fazer intervenções fortes e cotidianamente na vida de Sofia. Jogava remédios sem receita que a filha tomava para emagrecer, mesmo sendo magra. Colocava os irmãos e rapazes amigos da família para vigiar a filha rebelde.
Acreditava mais nos mexericos das beatas fofoqueiras do que na filha e assim castigava a menina a cada comentário maldoso que ouvia sobre ela, sem antes nem saber se era verdade. Primeiro batia. Foram várias surras que Sofia levou.
E quanto mais ela apanhava, mais se rebelava contra o sistema, que para ela significava a proibição, o veto à sua liberdade. E Sofia começou a ler e ler mais, até que um dia chegou a vez de fazer vestibular, escolhendo um curso que não era do gosto de sua mãe.
Os pais, naquela época, queriam filhos ‘doutores’ e fazer uma escolha fora da Medicina e dos cursos nobres era uma afronta à família. E mais uma vez Sofia se mostrou firme na sua escolha; queria escrever, ser escritora, poeta, jornalista. Não adiantaram as críticas negativas: foi em frente e seguiu o seu destino.
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