Olívia de Cássia Cerqueira ...
Há 2023 anos
a história da humanidade mudou. Um Homem que veio ao mundo com a missão de nos
salvar foi terrivelmente maltratado e injustiçado e a história se repete nos
dias de hoje.
Eu não
entendia e achava muito triste essa história, da mesma forma que ainda acho. E
basta trazer o assunto para a atualidade, percebemos o quanto isso é real.
Os rituais
se modernizaram, mas se repetem na Semana Santa.
Na União dos
Palmares da minha infância, apesar da tristeza do que representava a Paixão de
Cristo, tínhamos como “recompensa” a certeza de que não íamos apanhar, caso cometêssemos
algum deslize.
Segundo a
crença da época, não era dia de bater nem de maltratar ninguém: nem gente nem
animal, em respeito ao Cristo morto e crucificado.
Essa regra
lá em casa só foi quebrada quando fiquei adolescente e adulta, quando eu já
estava de namoro com meu ex-companheiro e minha mãe foi até a Avenida Monsenhor
Clóvis à minha procura, com a finalidade de me pegar no flagra e me bater,
inconformada com aquele relacionamento. E apanhei muito nesse dia quando
cheguei em casa.
Meus pais e
meus avós jejuavam na Semana Santa e nos dias normais comiam carne de segunda a
quinta-feira, na sexta não podia e voltava a comer no sábado.
Era tradição
e ainda hoje muitas pessoas católicas ainda seguem esse ritual. Outras pessoas
nem tomavam banho ou lavavam os cabelos. Eu achava falta de higiene.
Na Semana
Santa, da quarta até a sexta-feira, os nossos almoços lá em casa eram regados a
muita comida no coco, peixe, bacalhau, sururu e outras delícias; de sobremesa e
para o café mamãe fazia bolos diversos, pés-de-moleque, cocada e tanta coisa gostosa
que a gente se fartava.
Os rituais
da Igreja eram sempre seguidos pela minha família e na Sexta-feira da Paixão
nós acompanhávamos nossos pais na procissão do Senhor Morto, numa tristeza
contrita e profunda, depois íamos à igreja beijar o Cristo.
Quando
morávamos na Rua da Ponte, seu Antônio Timóteo passava a manhã inteira
reproduzindo na vitrola antiga, em disco de vinil, a via-crucis da Paixão de
Cristo, em volume bem alto e quase toda a rua escutava.
Era a
história triste do filho de Deus que veio ao mundo para salvar a humanidade. E,
na minha ingenuidade de menina, já me revoltava com a maldade do mundo.
Me
perguntava como era que aquelas pessoas tinham feito o Cristo sofrer tanto e
ele tinha sido tão bom e tão fraterno.
Aquela
história era tão triste que sempre me levava às lágrimas e quando fiquei
mocinha e fomos morar na Tavares Bastos ia ver a Paixão de Cristo no cinema de
seu Armando.
O filme era mudo,
em preto-e-branco e as cenas eram apenas fotografias estáticas, com legendas,
ou uma narração ao fundo.
Também lembro
que tinha o filme ‘Marcelino Pão e Vinho’; que eu me lembre foi o único que o
meu pai foi e levou toda a família, eu era muito criança, mas lembro que a
história era um enredo religioso.
Na
Sexta-feira Santa, era dia de ir pedir a bênção aos nossos padrinhos de
batismo; no meu caso, padrinho Durval Vieira e madrinha Nenzinha.
Meu padrinho
ia me buscar todo fim de semana para andar de jipe e eu ficava feliz com aquela
atitude dele. Nessa época do ano o
ritual se repetia.
Ele mandava represar
o açude da sua fazenda Sete Léguas e eu e Luciana (sobrinha de madrinha
Nenzinha) nos metíamos naquela água, para observar de perto a pescaria.
Era uma
festa para mim tudo aquilo, além das muitas frutas que comíamos no sítio. São pequenas
lembranças da Semana Santa de tantos anos passados que me ocorrem sempre nos
dias de ocaso. Boa Páscoa!
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