terça-feira, 15 de março de 2011

Ainda tenho esperança ...


Olívia de Cássia – jornalista

Dia 15 de março e ainda não consegui colocação em outra assessoria. Daqui a pouco o mês finda e as contas já se amontoam na pastinha verde. Minha gata Lolita não está bem, o corte da cirurgia não cicatrizou. Peguei uma solução para passar no corte, mas ela está arisca, não quer que eu coloque o remédio. Ela se estressa e me arranha, esperneia...

Fico nervosa, uso meus parcos conhecimentos de enfermagem e a coloco perto do potinho da água. Felizmente ela bebeu quase tudo; tem remédio anti-inflamatório lá, mas ela não está bem. Está triste, olhar vago, se deitando nos cantos da casa. Parece que tudo vem junto, num pacote só.

Mas eu ainda tenho esperança, sou persistente, não desisto. Quem sabe hoje o meu dia seja mais produtivo e eu tenha a notícia boa que tanto espero: um emprego para melhorar minha renda.

Tento aproveitar o horário da manhã que agora, por enquanto, estou sem ir para o trabalho e procuro me concentrar nas leituras. Muitas leituras. Não sou dona-de-casa, decididamente. Tanta coisa para arrumar na sala dos livros; arrumações e limpeza que a faxineira não faz, alegando não saber como colocar os livros na prateleira.

Eu não tenho voz ativa e de comando mesmo, minha mãe dizia isso. Não nasci para administrar essas coisas práticas da vida. Dona Antônia tinha razão. Mas por que eu não me interessei, como a maioria das mulheres, para aprender a gostar de tarefas domésticas?

Fiz o contrário na vida. Evitei ao máximo esse contato com o mundo real da casa e das panelas e fui me refugiar nos livros, nas palavras cruzadas, na escrita e na fotografia. Eu quis viver uma vida diferente daquela que eu via a minha mãe viver: cuidar da casa, dos filhos, administrar uma família, bens e ajudar meu pai no que fosse preciso.

Eu acreditava que tudo aquilo fosse um desperdício de tempo. Sempre absorvi em meu jeito de ser e na alimentação dos meus sonhos, que eu queria outro tipo de vida, com mais tempo para viver e aproveitar o que a vida tivesse de melhor.

Mas eu poderia ter sido mais organizada e ter aprendido as duas coisas: as prendas domésticas aliadas ao meu enriquecimento cultural e intelectual. E pelo contrário, me tornei uma nulidade doméstica e a intelectualidade ainda faltam anos- luz para que me sinta preparada. A gente se engana muito na vida.

Acho que a minha Lolita não vai sobreviver: ela está muito molinha e o pior é que não tenho um centavo para levá-la na emergência do veterinário. Tento animá-la, mas ela não quer saber de conversa. Removo-a do lugar que está e ela se esconde debaixo do móvel da sala.

Procuro abstrair, não posso me impressionar; ligo a Tv para me distrair um pouco. Daqui a alguns minutos eu vou pegar a quentinha no restaurante. Hoje não vou fazer comida, é muito chato cozinhar para uma pessoa apenas.

À tarde tem sessão na Assembleia Legislativa e vou lá para ver se tenho alguma resposta da assessoria e para pescar alguma informação para o blog. Até outra hora.

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