sábado, 26 de outubro de 2024

Aqui dentro tudo é igual

 


Olívia de Cássia Cerqueira

 

Aqui dentro está tudo igual. Lá fora os bem-te-vis e outros pássaros que não sei identificar, fazem a festa. É primavera, mas no Nordeste do Brasil, já é verão. Acordo às 4h de vez. Antes, levanto para ir ao banheiro e beber água.

Ligo a TV e vou cumprir minha rotina diária, enquanto posso. Avalio que se não me movimentasse para cumpri-las, já teria parado de vez.

Coloco água para ferver, para preparar o café, com muito cuidado, para não me queimar. Preparo a proteína, a fruta e agradeço a Deus por mais um dia.

A Rinite alérgica me incomoda. Muito vento e poeira no horário da tarde; é a natureza se revelando. Faço chá de limão com alho, pelo motivo de que os remédios de farmácia já não resolvem satisfatoriamente.

Ouço as noticias da TV e me incomodo com tanta violência diária, guerras insanas, brigas pelo poder e muito mau-caratismo. As informações políticas daqui e dali nos entristece. Por outro lado, é preciso ter esperança, apesar de tudo.

Ouço o barulho do mar lá longe e as ondas se quebrando, na praia da Avenida que pede cuidados. Faz muitos anos que já não a frequento, por conta da poluição.

Nos meados das décadas de 70 e 80, era frequente a nossa presença ali. Éramos adolescentes e a moda da vez, era ficarmos bem bronzeadas, com a marca do biquini.

 Vinha de União dos Palmares, para encontrar parentes e era uma festa diária esse costume.  Com a Avenida poluída, o banho de mar, quando tinha equilíbrio e força nas pernas, e já recentemente, pegava meu material de praia, pegava a van no posto de gasolina e ia à praia do Francês, pertinho de Maceió.

Hoje isso não mais acontece, mas é bom a gente ter lembranças para compartilhar e eu tenho muitas, basta colocá-las pra fora.. Bom dia.

 

 

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Herança ou ignorância?


Olívia de Cassia Cerqueira

 (foto de arquivo)

Minha mãe contava (talvez faça parte da minha imaginação) que para contrair matrimônio com meu pai, eles enviaram sangue papa daquela época benzer.  Não sei se já na imaginação daquela época, evitaria doenças dos filhos, já que eram primos consanguíneos.

Numa pesquisa rápida na internet, observei que alguns casais católicos solicitam a bênção. De acordo com o site oficial (da Igreja Católica) apenas recém-casados podem receber a benção do Papa, em Roma”.

Hoje em dia, segundo o site oficial, o pedido pode ser solicitado via internet. Além disso, o casal precisa enviar uma certidão de casamento e documentos pessoais.

Meu irmão mais velho, Petrúcio, que foi coroinha aos doze anos em Jaboatão dos Guararapes e Carpina, em Pernambuco, me contou que no caso de parentes até o quarto grau, a Igreja pede autorização ao bispo, que por sua vez encaminha ao Papa o pedido.

E por essa exigência meus pais esperaram para casar, por causa da consanguinidade, mas que no caso do envio do sangue, ele não tem conhecimento.

Eu fico me perguntando se todos esses familiares nossos que tiveram ou têm Ataxia, fizeram esse pedido e os que casaram apenas no cartório ou passaram a morar junto, não têm conhecimento ou não tiveram sobre essa informação.

O site da Sociedade Brasileira de Genética Médica informa o que já temos conhecimento empírico: “Quando os pais compartilham um antepassado comum, há uma maior chance de ambos terem os mesmos genes defeituosos”, pontua.

“Se ambos os pais tiverem o mesmo gene defeituoso, há uma maior chance de ter um filho com uma condição genética. A forma mais comum de relacionamento consanguíneo é entre primos e em algumas sociedades e culturas pode representar uma proporção significativa dos casamentos”.

E as informações apontam para mim o que se vem dizendo há anos a respeito das heranças. Ou seja: para não dividirem bens com pessoas que não fossem da família esses casamentos aconteceram no passado. E hoje em dia, será ignorância? O costume dos antepassados até se entende, mas o de agora?

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Onde os sonhos acontecem


Olívia de Cássia Cerqueira

 

Parecia que tudo era um caos, parodiando o filósofo grego Anaxágoras, filósofo e matemático grego, até eu conhecer o mundo adulto.

Achávamos que quando chegássemos lá, teríamos o “poder” das grandes decisões sobre nós e nossas vidas e não contávamos com as adversidades que viriam.

As brincadeiras de criança e os encontros e conversas com amigas não nos faziam parar para pensar no quanto éramos felizes. Ou não tínhamos dimensão disso.

Os encontros para estudar matemática, disciplina que nunca entendi, e fazer comidinhas enquanto nós conversávamos com as amigas eram muito bons e proveitosos, embora não tenha feito melhor nessa disciplina.

“Tanto o jogo quanto a brincadeira, tem um papel muito importante, é preciso deixar a criança em total liberdade seja sozinha ou em grupo, para assim, desenvolver um momento de explorar a imaginação, o prazer, a alegria, raciocínio e habilidade”, pontua a Cartilha Feliz, do Governo Federal, disponibilizadas na internet.

No nosso tempo de antigamente, como dizemos nós mais velhos, não se tinha a riqueza de recursos que se tem agora na educação, tanto a infantil quanto a educação fundamental  de hoje e do ensino médio e nem sei se há um aproveitamento no que diz respeito a isso, pois o que tenho acompanhado é superficial.

Mas voltando ao tema do texto,  como diz o dito popular, “de tanto remar contra a maré um dia a gente chega lá”. Ou não, como diria nosso ídolo Caetano.

O tempo passou. Estou velha, cheia de manias, “rabugenta” que muitas vezes nem eu me entendo. “Deus sabe o que faz”, é um mantra que se repete quando não se tem resposta para tudo ou quase tudo.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Festa da democracia



 Olívia de Cássia Cerqueira – Jornalista  aposentada (foto Inteligência artificial)

 

Este texto eu escrevi em 1º de setembro de 2009 para meu antigo blog, quando das eleições municipais; atualizei, mas verifiquei e v que não precisou muito; vejamos. Está chegando o dia da grande festa da democracia. Em 6 de outubro, brasileiros de todos os municípios vão escolher seus prefeitos e vereadores.

Será  uma eleição rápida, pois escolhermos apenas dois cargos: vereador e prefeito, em todos os municípios brasileiros. Cabe a cada um de nós escolher o que acharmos melhor e tiver mais trabalhos na comunidade, sem ofensas e sem xingamentos, livrando-nos dos aproveitadores dos menos favorecidos.

No período de campanha, os candidatos tiveram a oportunidade de mostrar seus planos de atuação, propostas de trabalho, programas de governo e a chance de conhecerem melhor os locais em que vivem, nas visitas que fizeram aos bairros e comunidades rurais de cada lugar. Vale lembrar que o eleitorado, de dez anos para cá, mudou e tem outro perfil.

No entanto, na prática, o que acontece é o mesmo de sempre: a população mais carente reclama que a maioria dos políticos só aparece na comunidade quando precisam de voto; depois da eleição, vencendo ou perdendo, abandonam o eleitorado.

Outra característica de uma política mal trabalhada são as fofocas, fuxicos, embates, disputas irregulares de espaço e muita puxada de tapete. Muitos  desses pretendentes a legisladores e chefes de executivos não estão desenvolvendo seu trabalho político com dignidade.

Acostumaram-se ao vício da compra de votos e à corrupção eleitoral para atingirem seus objetivos. Os eleitores, por sua vez, também, ainda, se acostumaram à velha política oligárquica dos coronéis e se submetem ao que eles ainda ditam em suas fazendas e currais, auxiliados por algumas ‘autoridades’ corruptas e sem escrúpulos.

A Justiça Eleitoral vem alertando, desde o começo, para que o eleitor não venda seu voto e que fiscalize se em sua cidade se está havendo irregularidades praticadas por algum candidato. 

Está mais do que comprovado que apesar da lei eleitoral mais rígida e da fiscalização por parte de alguns juízes sérios, a prática dos currais eleitorais, da compra de voto, da distribuição de dentaduras e óculos ainda está sendo adotada por grande parte dos candidatos, principalmente no interior do Estado onde as dificuldades são maiores e a fiscalização deixa muito a desejar.

Outro ponto a ser avaliado pelas autoridades é a questão da violência e da intolerância que aumenta também nesse período, bem como os assaltos a bancos. Inconformados com seus desafetos, muitos políticos cometem loucuras para conseguir se eleger e é bom que as autoridades fiquem de olho.

Meu pai era fanático por essa época do ano e gostava de circular pela cidade, quando ainda podia andar, para observar o desempenho dos candidatos, principalmente um deles fosse seu primo Afrânio Vergetti de Siqueira.

E nesse ponto herdei dele essa paixão e antigamente, quando a saúde ainda permitia,  eu me deslocava para União para participar das campanhas  e caminhadas dos meus candidatos e para votar no dia da festa da democracia.

domingo, 29 de setembro de 2024

Quarto livro

Foto Inteligência artificial


Olívia de Cássia Cerqueira

(29-09-2024)


Quando meus pais morreram, vi meu mundo cair: papai três antes que ela. Mamãe dizia que se ficasse viúva ia aproveitar a vida e viajar, o que não aconteceu.

Infelizmente não teve muito tempo:  virou estrelinha com a mesma idade que tinha meu quando faleceu, aos 76 anos, que mais pareciam 80 ou mais.

Passou sua infância e adolescência na roça plantando lavoura e capinando mato e quando veio para a cidade, já casada e com meu irmão mais velho com oito meses, fazendo trabalhos domésticos que não acabava nunca.

Pedi perdão a eles pelas mágoas que possa ter proporcionado. Nessa época ainda não morava sozinha, se é que eu possa considerar aquilo uma vida a dois, pois aquele que eu considerava companheiro de uma vida passava mais tempo em União dos Palmares do que comigo, em Maceió, onde fiz faculdade e me formei e onde tive meus empregos.

Apesentei ele a todos os amigos da faculdade e nenhum o discriminava pela sua condição social ou pelos seus poucos conhecimentos. E eu enfrentei “moinhos de vento” para ficar com ele.

Eu vivia cheia de angústias com as histórias que mamãe contava, daquele que eu, ingenuamente, achava que pudesse me acompanhar até ficarmos com os cabelos brancos e andarmos de mãos dadas, como ele dizia.

Hoje, passados mais de 30 anos e com a saúde comprometida, termino de organizar meu quarto livro (crônicas), encerrando um ciclo em minha vida.

O livro está na gráfica para os ajustes finais, antes de ser impresso. É a realização de mais um sonho que se torna realidade, não importa o que digam ou pensem.

Não sei se o “leitores” entenderão o título que escolhi, ou o tema dos meus escritos, que versam, em sua maioria sobre relatos da minha vida e suas debilidades sendo eu portadora de Ataxia spinocerebelar, uma doença neurodegenerativa. 

Nem sei se ainda tenho tempo para publicar outro livro.  São tantas limitações diárias que aumentam a cada dia, que prevejo a minha “feiúra” daqui para frente. Fico longe de espelhos para não me assustar com o que estou vendo.

Não ter com quem falar em casa sobre esse problema me dificulta um pouco, mas quem me garante que se eu tiver algum ou alguma auxiliar vai me facilitar a vida? Muitas vezes o que se arruma é mais confusão.

É isso que eu quero me fazer entender.  Tem dias que acordo e penso que não vou dar conta do recado. Sinto algumas dores no corpo todo. E seja lá como for, só colocarei uma pessoa estranha para me auxiliar, quando eu não tiver mais movimentos, da mesma forma que minha mãe não queria, mesmo não tendo essa herança miserável, embora fosse prima-irmã do meu pai.

Hoje a entendo perfeitamente, infelizmente um pouco tardiamente, mas restaram grandes ensinamento dela e de papai. Bom domingo Para todos.

domingo, 8 de setembro de 2024

O domingo chega, de novo

 Foto: Inteligência artificial

Olivia de Cerqueira


Minha rotina não muda. É domingo de novo. A rua está silenciosa. Hoje levantei um pouco mais tarde, fui varrer o jardim, cheio de folhas secas do pé de manga dos Fundos da Estação Ferroviária.

 Levei duas quedas num intervalo pequeno entre uma e outra. Faz parte do meu dia a dia. Sinto que meu tempo encurta cada vez que isso acontece.

As quedas fazem parte da vida, mas no meu caso se tornam mais frequentes, literalmente. Sei o que aguarda a um “herdeiro(a)” desse mal miserável.

Feliz ou infelizmente não deixarei herdeiros diretos, que possam ter 50% de chance de ser portador. E como disse Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

Grito em silêncio, para que ninguém me escute. Choro sozinha minhas dores, ao lado dos meus pets. E eles pedem atenção e carinho, que às vezes finjo que não vejo, para ver como reagem. Fiona e Pipico (gatos) sobem no teclado, borrando o que já consegui digitar. Brigo com eles e se aquietam.

Mas é tempo de rock, bebê. Como eu amo esse ritmo, que faz parte da minha juventude, embora o mesmo sentimento tenho para com meus ídolos da MPB.

Para reafirmar isso, comprei duas camisas que adorei: uma do Quem (último show do Fred Mercury) e outra do Pink Floyd. Fiquei de passar depois para comprar novamente. Uma do Guns e outra do AC/DC (amo).

E apesar de tudo e contudo, tentarei conseguir companhia para seguir com a vida, ir no artesanato, nas exposições, Bienal, até quando o Criador permitir. Bom dia!

terça-feira, 23 de julho de 2024

Não era para ser assim

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Não era para ser assim, não foi dessa forma que aquela adolescente que fui desejou. Queria mudar o mundo, como muitos adolescentes sonhadores daquele tempo.

Eu queria ter sido uma excelente profissional, uma pessoa melhor e uma escritora de bons textos: simples assim. Mas as limitações foram chegando no corpo e na mente. Fui ficando mais atrapalhada, descoordenada.

Tem dias que não consigo escrever uma linha sequer, nem manualmente, como fazia antigamente, antes de passar para o computador e achava que as palavras fluíram com mais facilidade. Isso me deixa em uma desarmonia comigo.

E chegaram as limitações: digito “catando milho”, coisa que antigamente fazia com as duas mãos e com rapidez: fui digitadora em uma gráfica, além de jornalista.

Andava com um caderno e uma caneta. Achava que o que colocava ali era poesia. O tempo passou, fui para a faculdade e percebi que tudo era diferente. Aprendi que o mundo era diferente e que nada seria da maneira que pensei.

A aposentadoria chegou: não da forma que eu queria. Para fazer viagens, conhecer o mundo, escrever por prazer. Literatura requer tempo e paciência para se pensar, solidão e boas leituras. Mas o que escrevo não é isso. Bem sei.

Tem gente que não entende minhas angústias e minha forma de refletir sobre o mundo e suas especificidades. Da vontade de responder à  altura, mas não  vale a pena. ‘’Questões que já passaram pela minha mente, prestes a embarcar em uma jornada de reflexões profundas e intrigantes sobre a angústia existencial.  Então continuo lendo e procurando descobrir respostas que talvez nem saiba o que procuro.  Bom dia.

Aqui dentro tudo é igual

  Olívia de Cássia Cerqueira   Aqui dentro está tudo igual. Lá fora os bem-te-vis e outros pássaros que não sei identificar, fazem a fes...